SE O TEMPO FOSSE OURO..., TALVEZ PUDESSES PERDÊ-LO. - MAS O TEMPO É VIDA, E TU NÃO SABES QUANTA TE RESTA.

domingo, 2 de março de 2008

FREUDISMO, MAIS UMA MODA!




Este artigo foi escrito por quem, indagado por um de seus mais dedicados alunos, o Sr. Fábio Holanda, se viu agora obrigado a proferir um veredicto desfavorável à psicanálise.
Muitas pessoas há que têm criticado a psicanálise e muitas mais há ainda que a têm reprovado, sem se darem ao trabalho de a criticar. Estou convencido de que os estudos críticos das idéias de Freud não têm sido levados tão longe quando seria para desejar, nem conseguiram ainda levantar o véu que é, por assim dizer, o pano de fundo de sua teoria. E se o fizeram, não deram a conhecer, com suficiente clareza, quão intimamente as várias concepções de Freud e da sua escola dependem da filosofia que está por trás de todo o sistema. Muitos adversários da psicanálise rejeitam as suas idéias, porque entendem que tais idéias contradizem a moral, os princípios geralmente aceites e o senso comum. Mas estas reações isoladas, por muito justificadas que possam ser, não são bons argumentos, pois não são cientificas. Podem resultar de uma vaga noção de que alguma coisa está em desacordo com os fatos, com as idéias e com a lógica da teoria que condenam; mas, a não ser que tais fatos se tornem claramente visíveis, a simples maneira de pensar de uma pessoa sobre o assunto é um argumento de pouco valor.
Como sabemos, Freud é o pai da psicanálise. Foi ele quem desenvolveu tudo quanto hoje se encontra geralmente compreendido sob esta rubrica, embora os primeiros passos nesse sentido tivessem sido dados juntamente com Josef Breuer e, como parece, em parte sob a sua influência, vale notar que Breuer abandonou os trabalhos pouco depois de terem sido iniciados, por razões que são pouco conhecidas e que, em qualquer caso, não têm importância. Dr. Breuer era mais velho do que Freud e morreu a 20 de dezembro de 1925 em Viena. Freud morreu em Londres, em 24 de Setembro de 1939, fora da sua pátria e com 84 anos de idade.
Logo após a sua morte, tem inicio a crítica de toda a sua obra.
Um dos mais respeitáveis críticos de Freud foi Rudolf Allers — ou o "Anti-Freud", como o chamou Louis Jugnet. Psicólogo eminente: discípulo direto de Freud trabalhou mais de 13 anos com Alfred Adler, e exerceu considerável influência em figuras tais como Victor Frankl, que foi seu aluno. Católico, vienense, desde cedo manifestou oposição às idéias de Sigmund Freud, que considerava anticientíficas. Em 1940 publicou seu famoso trabalho "The Successful Error — A Critical Study of Freudian Psychanalysis".
É esse o pensamento de Allers, discípulo de Freud sobre a psicanálise: “ Conto, no meu ativo, trinta anos de prática de psiquiatria e vinte anos de prática de psicoterapia. Fui, durante muitos anos, professor de psicologia médica e normal no estrangeiro, e há já dois anos que ensino psicologia na América. Há vinte anos, quer por escrito quer oralmente, me tenho dedicado à psicanálise, acompanhando, desde há muito tempo, a sua evolução.
Os resultados dos meus estudos sobre psicanálise, sobre a sua comparação com outras concepções psicológicas e sobre as minhas experiências pessoais em muitos indivíduos, encontram-se espalhados por muitas publicações. Devo, porém, dizer que já não mantenho algumas afirmações que fiz. Trata-se, na sua maior parte, de afirmações que se ajustam a uma ou outra parte da psicologia de Freud. A minha opinião modificou-se; quanto mais conhecedor me tornei da psicanálise e dos seus problemas, tanto menos favorável se tornou a minha opinião. As conclusões a que chego neste assunto são, portanto, na sua maior parte, negativas.”
A psicanálise ou o freudismo como poderiamaos chama-la de um ponto de vista mais ideologico, orgulha-se de ser uma ciência e, sendo assim, tem de ser contraditada pelos meios que a ciência emprega, isto é, pela análise lógica e pelo exame crítico dos fatos.
O problema da psicanálise e que ela traz no seu corpo teórico, contradições ocultas bem como a inconsistência de muitas das suas afirmações, por ai se vê que esta teoria é incompatível com qualquer filosofia, excetuando a ideologia cujo espírito anima, não só a teoria, mas também a prática da psicanálise.
Uma das questões a ser considerada é que na psicanálise a teoria e a prática estão tão intimamente ligadas que se podem considerar verdadeiramente inseparáveis. Não se pode aceitar uma sem a outra. Todo aquele que quiser fazer uso do método não poderá deixar de adotar a filosofia. Mas a sua filosofia é absoluta e demonstravelmente errada, o que impugna a utilização do método.
Para entendermos um pouco, vejamos alguns aspectos do Freudismo.
O sonho e a libido são dois elementos essenciais da psicanálise, e a partir deles poderemos ter uma idéia do tipo problema que a psicanálise trás em seu corpo teórico.
Aplicando-se ao estudo dos sonhos — os seus próprios e os dos seus pacientes —, Freud observa que, no sonho, por faltar a consciência reflexa, as operações racionais não podem ser exercidas, mas somente significadas ou simbolizadas. Daí é levado a considerar, para lá do conteúdo manifesto, cuja recordação se conserva e se pode narrar, um conteúdo latente, constituindo o verdadeiro sentido do sonho.
Freud enumera cinco processos pelos quais se elabora o conteúdo da consciência onírica. Condensação, quando os elementos provenientes de imagens diversas fundem-se numa só imagem. Transferência, quando a carga afetiva, dissociada de seu objeto normal, é transportada a um objeto acessório Ex.: alguém sonha que esta matando destruindo um carro vermelho, que na verdade é o substituto para uma pessoa que tem um carro da mesma cor e que ele detesta. Dramatização: o pensamento abstrato é traduzido em imagens concretas; então as ligações lógicas transformam-se em imagens sucessivas. Simbolização: quando uma imagem é substituída por outra, cujo simbolismo traduz, em forma dissimulada o conteúdo da primeira imagem. Elaboração secundaria: o sonhador põe ordem, de maneira mais ou menos arbitrária, em seus sonhos, utilizando devaneios que tem quando esta acordado.
Por isso, para o analista, o sonho manifesto é uma charada: parece absurdo, mas é possível decodifica-lo; é que no sentido contrário, existe um trabalho do sonho, que, realizando-se sobre as recordações ou restos diurnos, os condensa, os desloca e faz deles um texto aparentemente vazio de sentido. A análise do sonho em vista da decodificação do texto dispõe de dois meios: um fundo universal de símbolos, e a associação livre que consiste em pedir ao paciente que exponha todas as idéias que lhe acudam ao espírito a propósito do seu sonho; é possível reconstituir, a partir daqui, os deslocamentos, combinações e simbolizações através dos quais se elaborou o conteúdo manifesto, trazendo à luz do dia o conteúdo latente original. O que conduz a três postulados fundamentais:
Existe um determinismo psicológico (as idéias não aparecem de qualquer maneira no espírito).
Todo o ato de um sujeito humano possui um sentido.
A aparência absurda de certos atos (o sonho) resulta do fato de esse sentido não estar presente na consciência do sujeito.
A generalização destas teses culmina na postulação de um conjunto de processos inconscientes, e, por conseguinte, de uma instância psíquica inconsciente, onde têm origem, não só o sonho (realização de um desejo inconsciente), mas bom número de atos da vida quotidiana (lapsos, atos falhados, ditos de espírito).
Desde as suas primeiras obras que Freud tentava explicar o funcionamento do psiquismo humano em termos de energia, uma energia suscetível de ser investida de diversas maneiras. Em 1905, depois de ter notado a constância dos problemas sexuais entre os seus doentes, passa a conceber esta energia sob a forma originária da pulsão sexual (libido); a libido, ao contrário do instinto, não é antecipadamente determinada, tem uma história, passa por diferentes estados: tem uma fonte (a excitação do órgão em que se apóia), um objeto (ex: uma pessoa do sexo oposto, do mesmo sexo), um alvo (ato a que impele), e até uma quantidade. Determinando uma história "normal" da libido da infância à idade adulta, Freud fornece um meio de explicar as perversões sexuais (desvios relativos quer ao objeto, quer ao alvo, quer à fonte), a partir da história do sujeito, e até de mostrar como certos traumatismos fixam a libido em fases anteriores à sua maturação normal.
O problema fundamental colocado pela operação freudiana é então o de determinar uma teoria do aparelho psíquico, suscetível de integrar todos os aspectos em causa e de permitir uma explicação dos comportamentos patológicos. Freud apresenta duas descrições ao mesmo tempo dinâmicas e tópicas. A descrição mais antiga (primeira tópica) consiste em conceber o psiquismo humano como um sistema espacial composto pelo inconsciente, por um lado, e pelo pré-consciente-consciente, por outro; entre um e outro campo, uma censura (interiorização dos interditos) recalca certas representações. Os diversos arranjos possíveis entre os diferentes tipos de representação constituem outros tantos equilíbrios e conflitos cuja solução dá por vezes lugar à doença. Estes equilíbrios são regulados pelo princípio de prazer, estabelecendo que o conjunto da atividade psíquica tem por alvo proporcionar o prazer (e evitar o desprazer), e pelo princípio de realidade, estabelecendo que o conjunto da atividade psíquica tem por alvo proporcionar o prazer (e evitar o desprazer), e pelo princípio de realidade, estabelecendo que esta mesma atividade, na medida em que é regulada pelo último princípio, procura a satisfação em função das condições impostas pelo mundo exterior. No entanto, observando que:
o sujeito fornece a si mesmo uma representação do eu, suscetível de ser identificada em diversas representações, ou de ser proibida em relação a outras;
estes mecanismos de "identificação" ou de defesa são também inconscientes;
Freud admite que o inconsciente não pode coincidir apenas com o recalcado, nem o eu apenas com os sistemas pré-consciente consciente. Isto o leva a conceber uma segunda tópica, materializada em três instâncias: o isso (lugar das pulsões), o eu e o supereu (interiorização das exigências e dos interditos parentais) cujas relações e cujos conflitos constituem a vida psíquica. Deste modo, Freud torna maior o papel das pulsões (concedendo o mesmo lugar, a par da libido — Eros —, a um instinto de morte — Thanatos —), cujos conflitos representam miticamente a vida psíquica.

Com Já dissemos, o freudismo assume aspectos diversos. É a um tempo método para exploração do inconsciente e tratamento de neuroses – uma psicologia dos instintos, — e uma filosofia geral. De fato, foi sobretudo a tentativa feita por Freud para reduzir tudo no homem à sexualidade que valeu ao freudismo sua imensa repercussão. È sob este aspecto que alias, esta longe de ser a essência de seu sistema, nem o mais original é que devemos encará-lo aqui.
Na base do freudismo há uma doutrina que afirma a continuidade do homem como animal cujas diferenças se explicariam por via de evolução. Dai se segue, pois, que todos os instintos do homem são essencialmente os mesmos que os do animal: as diferenças que se verificam são acidentais, e representam meras sublimações racionalizações dos instintos animais. A própria razão não é mais que um simples desenvolvimento da inteligência animal: o grau é outro, mas é a mesma essência, de tal sorte que os produtos específicos da espécie humana, ciência e filosofia, arte, moral e religião, não são mais que formas adquiridas e derivadas dos instintos animais.
Na massa de instintos que manifesta a atividade humana, é possível descobrir o instinto fundamental, princípio e fonte de todos os outros. Esse instinto é, evidentemente, o instinto sexual. Sua força imensa e sua influencia designam-no já como sendo o instinto-mestre. Mas a análise das diversas atividades ou tendências instintivas do homem (curiosidade, desgosto, imperialismo e excelência, submissão, etc.), bem como das formas patológicas do psiquismo, leva a caracterizá-las como derivadas, componentes ou efeitos (em conseqüência de conflitos internos) do instinto sexual.
Numerosos são os argumentos aduzidos por Freud, porem o mais importante de todos, o que é base, em suma, de toda a teoria, é o argumento da sexualidade infantil. Para Freud, todo o comportamento da criança explica-se pela sexualidade, que é visivelmente o princípio de onde, por uma evolução cheia de vicissitudes, procedem a sexualidade normal do adulto e, ao mesmo tempo, todas as formas anormais da sexualidade, que nada mais seriam a sexualidade infantil aumentada e decomposta em suas tendências particulares.
As fases da sexualidade infantil definem-se, de acordo com Freud, , como um auto-erotismo (a criança explora seu próprio corpo), sendo sua atenção retida sobretudo pelas zonas erotógenas), um, narcisismo (desde que se constitui o EU, as tendências sexuais orientam-se para esse EU) ; depois, uma fase objetal que as tendências sexuais se dirigem para um objeto exterior e estabelecem o complexo de Édipo; e finalmente uma de latência, em que fenômenos inibitórios (pudor, desgosto, influência do meio, freio religioso, etc.) recalcam a tendência sexual até o momento da puberdade. O acontecimento capital dessa evolução é a formação do complexo de Édipo, isto é, de uma situação em que o impulso sexual orienta o menino para a mãe e a menina para o pai, com ciúme do outro progenitor como rival, de tal modo que toda criança é incestuosa e parricida em potência.
Freud explica também que a dissolução desse complexo pode vir a ser fonte das mais altas aspirações como sua permanência inconsciente pode explicar os fato de desordem psíquica.
Esses diversos fenômenos é que explicarão o homem todo. Tudo provém da "libido" narcísica ou objetal, quer diretamente ou indiretamente quando "os impulsos sexuais perderam, no todo ou em parte, seu uso próprio e são aplicados a outros fins pelo processo da sublimação, fenômeno de transferência especifica de ação inconsciente. Se a criança é um perverso polimorfo, a sublimação é apta para fazer brotar, dos impulsos recalcados da sexualidade, as grandes virtudes, o heroísmo, o gênioe a santidade.
Não podemos aqui entrar nos pormenores desta teoria, então devemos indicar agora suas dificuldades, basicamente em três pontos de vistas:
1.A sexualidade infantil. O que concerne à sexualidade infantil, é preciso notar que Freud interpreta uma psicologia infantil em termos de adulto. A teoria freudiana da sexualidade infantil é, todo inteira, construída em termos de adulto. Há nisso erro grave, que vicia toda a tese. A criança e o adulto diferem grandemente, por se acharem não no mesmo estagio da evolução. Observação esta capital quando se trata dos instintos, sujeitos, como se viu, a uma lei de evolução e de involução. Não se tem, pois, o direito de concluir da criança para o adulto, ou inversamente, pela simples verificação de comportamentos parecidos.
Certamente existe uma sexualidade infantil normal, diferentíssima da do adulto. É essencialmente indiferenciada ao contrário da sexualidade adulta. Essa sexualidade não pode manifestar-se quer sob forma de sensações genitais, devidas à excitação acidental das zonas erotógenas, quer na forma amorosa, por efeito de uma estimulação psíquica. Mas é fato certo que essas duas espécies de fenômenos não estão ligadas entre si, e que as emoções afetivas da criança (que Freud atribui ao "complexo de Édipo") não admitem reações genitais. Sua sexualidade (pois o sexual transcende largamente o genital) é, de alguma sorte, implícita e confusa.
2 e 3 Aspecto parcial e acidental da sexualidade. Por outra parte, os fatos em que Freud pretende fundar o discernimento do auto-erotismo, do narcisismo e da orientação incestuosa da criança são arbitrariamente reduzidos à pura sexualidade. Esses fatos podem ter, e realmente têm, um aspecto sexual ( mesmo que se acaba de fazer notar), porém este aspecto não é o unico e nem sempre o mais importante A exploração do corpo é provocada em primeiro lugar pela necessidade que a criança tem de compor a imagem táctil e visual do seu próprio corpo. Esta exploração pode encontrar acidentalmente a sexualidade, mas não é por esta necessariamente comandada. Outro tanto se deve dizer da procura de carinhos: por ela ter uma repercussão sexual, mas puramente acidental, e, em todo caso, não poderia reduzir-se á sexualidade.
O erro de Freud foi transformar em ligação ESSENCIAL a ligação ACIDENTAL das sexopatias com a sexualidade infantil, isto é, ter explicado todas as ANOMALIAS DA SEXUALIDADE PELO DESENVOLVIMENTO NORMAL DA CRIANÇA, CONSIDERADA JA DE INICIO COMO UM “PERVERSO POLIMORMO”, quando não passa de um pervertível polimorfo. .
A teoria freudiana das transformações da libido recalcada em arte, moral e religião funda-se numa filosofia das mais discutíveis, por isso que, sem nenhuma prova, postula que todas as manifestações da atividade humana só podem derivar da atividade sensível, e, por conseguinte, que só é natural no homem aquilo que ele tem em comum com todos os outros animais. Este postulado absolutamente não se explica por si mesmo, como supõe Freud.
Pode-se admitir que o psicologismo superior muitas vezes é poderosamente superativado sob a influencia dos instintos, sem se concluir que daí siga que a razão e os instintos superiores se reduzam aos instintos sensíveis e não passem de simples disfarce da sexualidade.
Não só são falsas as tentativas de reduzir tudo a sexualidade, mas também é uma proposta impossível. OS INSTINTOS DERIVAM DAS NECESSIDADES, e as necessidades são muitas e irredutíveis, Os instintos são feitos para o vivente, e devem harmonizar-se entre si para assegurar o bem individual e especifico desse vivente.
No homem, querer reduzir os instintos à sexualidade ou seja qual outro fator for, tem menos sentido ainda que no animal, ao menos se se levar em conta o fato, empiricamente certo, da dualidade sensível e intelectual da natureza humana. Esta dualidade implica a realidade de instintos e inclinações essencialmente diferentes.
Não e aqui o espaço para se contrapor todos os aspectos da psicanálise, mas é preciso começar por verificar que o freudismo é uma obra eivada de esquisitices e de falhas. Precisamos então refletir sobre qual seria a finalidade de se apoiar tais “conhecimentos” e praticas. Fica ai a questão.


DA FILOSOFIA MODERNA E DA NEO-ESCOLÁSTICA



Atualmente estou fazendo pesquisas no campo da moral e da filosofia política. Acredito que a importância básica da filosofia para o comum das pessoas é a possibilidade que ela oferece do aprimoramento do individuo como pessoa humana, a formação moral e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento reflexivo, além de oferecer elementos para compreender a influencia das idéias na sociedade. Para, além disso, ou a filosofia será uma ciência avançada que estará sob domínio de poucos intelectuais e talvez nenhuma importância terá para a sociedade, ou será uma discussão inútil, que confirmará a famosa expressão “a Filosofia é a Ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”.


Considero essa simples colocação como sendo essencial diante do problema das várias filosofias que fazem das massas seu publico alvo. Estas “filosofias” querem oferecer ao homem moderno, múltiplas escolhas, ressaltando o aspecto da liberdade humana, escondendo por trás de suas proposições o fato que todas elas não são senão múltiplos aspectos do mesmo, que o cidadão abraça, sem conseguir se dar conta que através de um processo funesto, acabou perdendo sua liberdade, justamente pelo fato paradoxal de estar sendo “livre” de fazer e de querer qualquer coisa.


De algum modo, tal fenômeno acontece por causa de uma deformação mentalidades que se gerou no terreno filosófico e, sobretudo metafísico. Com efeito, uma metafísica visceralmente errônea corrói o homem no mais profundo dê seu pensamento e de sua atividade. Deturpa irremediavelmente, a sua concepção da ordem moral.


Acredito que a filosofia não está só nos livros, mas principalmente e, sobretudo na reflexão que o homem faz sobre sua atividade, não na perspectiva daquela “liberdade” ilimitada e egoísta, mas sob a perspectiva do bem. Portanto não é apenas nem, sobretudo através dos livros que haveremos de resolver os problemas gravíssimos que fazem sofrer a sociedade. O estado de coisas atual, trazendo em seu bojo uma inversão completa dos princípios do ser e curiosamente, sem razão suficiente, busca através de um imanentismo generalizado, relativizar toda certeza e toda verdade. Assim, o individuo que já não crê realmente em mais nada, se torna capaz de assimilar e de acreditar em qualquer absurdo como se fosse a mais autentica verdade.


É preciso então denunciar, explicitar, combater, este estado de coisas no terreno das artes, da ação política, da vida social, dos símbolos, da religião, e das ciências e também no terreno do pensamento. Mas mais no pensamento vivo que se comunica pela ação pessoal e pelo calor de um movimento constituído por milhares da pessoas em busca dos mesmos objetivos, do que pelo livro. Este por si, não alcança senão um pequeno círculo de eruditos, que não movem o mundo. Tal observação vale especialmente para os livros de filosofia. Mas, aliados a movimentos pujantes, eles constituirão, ai sim, elementos poderosos e indispensáveis para a plena expansão de uma corrente que visa agir sobre a opinião pública, e criar uma escola de ação e pensamento. Eis ai a filosofia viva, “sociabilizada” com vistas de uma ação comum para o bem, baseada no individuo e na consciência, mas não do eu individualista, e sim do Bem e da relação da finalidades das coisas que é inerente ao ser.


A despeito de não ser filiado aos “ismos” filosóficos acredito que três atitudes, aliás, muito contra a maré do carreirismo e do oportunismo profissional e ideológico, são necessárias para uma ação positiva e mais consciente tanto do filosofo propriamente dito, como das pessoas que pretendem pensar nossa sociedade. São elas (pasmem):


A rejeição absoluta da filosofia moderna;


A aceitação da neo-escolástica, embora com restrições;


Uma retomada do pensamento de Santo Tomás de Aquino, ressaltando nele seu traço platônico.
Justifico aqui, tal “escandalosa” e “obscura” posição, começando não por algum argumento seja de qual ordem for, mas da simples percepção de que hoje, o que não faltam são os absurdos especulativos multiplicados pelas possibilidades, que julgam que o possível seja o limite e a finalidade do argumento filosófico, mas que obviamente não é senão a deturpação da filosofia. Só isso!


Precisamos filosofar com bases, com honestidade, com seriedade!


Esta “orgia” do moderno e do pós moderno, do racional e do pós racional, não é senão o caos, travestido de liberdade, de humanismo e de razão pois cada um dos conceitos são afirmados nessas filosofias engendram sua própria negação.


Assim, o inicio da reflexão filosófica espelhada em São Tomás de Aquino, é um afirmação do rigor, da simplicidade, da profundidade e da serenidade da argumentação filosófica. Convicto das qualidades do santo filósofo estou convicto também, de que é uma filosofia que salva e harmoniza as exigências legítimas da ordem objetiva a da ordem subjetiva, do ser e do pensar, do ato e da potência, do inteligir a do querer.


Essa atitude redunda na rejeição da filosofia moderna em todas as expressões desde Francis Bacon e Descartes até Heidegger, Sartre e Marcuse, que fizeram da "filosofia" sinônimo elucubrações mentais, de hermetismo, e de contradição.


Em relação à "filosofia moderna" refiro-me ao que cada sistema tem de especificamente próprio. Não se trata da árdua e inútil tarefa de refutar cada uma das idéias de cada um dos pensadores modernos, mas de discordar dos próprios pressupostos primeiros dos quais todos eles partem.


Qualquer pessoa sadia sabe que homem é homem, o cão ê cão, a pedra é pedra. Essas são evidencias primeiras! A evidência não se demonstra, e não é trabalho de filósofo demonstrar o evidente. O evidente não é objeto em si da filosofia, mas é o princípio pelo qual, depois de ordenado e explicitado, se constrói o quadro geral do qual de deduz a ordem do Universo.


O contrário disso é o absurdo, do qual tudo se segue. Se negarmos a evidencia cometemos um suicídio criteriológico. Renunciamos ipso facto, à validade não só a todo pensamento, mas a toda e qualquer ação humana em qualquer terreno. Colocamos no centro da ordem do ser qualquer coisa: a idéia, a vontade, a matéria, o não-ser, o vir-a-ser, o próprio eu, o irracional, ou qualquer fantasmagoria mais ou menos abstrata que convencionássemos chamar de "deus". Tudo passa a ser uma questão do gosto, da preferência pessoal, do capricho e orgulho absolutamente gratuitos.
Do suicídio criteriológico segue-se à seqüela imediata e indeclinável o suicídio metafísico. O projeto moderno de pensamento é degenerativo, é um o assassinato da razão e à medida que se aceita ser moderno se aceita o suicídio da razão, é a marcha progressiva da razão humana para a aniquilação de tudo o que é humano, é a busca frenética do não ser, do irracional, do capricho, do desregramento das idéias e também dos costumes.


Assim, as abominações mais tresloucadas do um Marcuse - filósofo e símbolo de um estados de coisas - já estão em germe nas elucubrações aparentemente sérias, lógicas e profundas de Descartes, Leibniz, Kant e Hegel.


Com essas provocações quero fazer meus colegas da academia, refletir sobre a aceitação irrefletida do modelo “filosófico”, acadêmico, que sufoca o filosofar (modelo que impede até o surgimento de uma filosofia essencialmente brasileira). Basta de preconceito acadêmico contra as idéias que não são vigentes. Filosofar é preciso.


Mas rejeitando a filosofia moderna, poderíamos pensar que eu seria um exemplar tardio da néo-escolástica. Nada disso.


Acredito que a neo-escolástica tem dois méritos a serem considerados:


A ressurreição do espírito tomista (ou como querem alguns tupiniquins - tomasiano) e a refutação dos pensadores modernos, principalmente de correntes como o idealismo, o positivismo, o modernismo e afins.


Não obstante, são várias as insuficiências e até mesmo desvios que, numa visão equânime, cumpre imputar à néo-escolástica. Dentre elas enumeramos as seguintes:


Insuficiente espírito metafísico;


Simpatia, muitas vezes não confessada, pela filosofia moderna;


Esquecimento e às vezes negação do aspecto platônico da filosofia de São Tomás;


Caráter excessivamente “livresco”, isto é, insuficiente CONTATO COM A REALIDADE.


Como no período de decadência da escolástica, a metafísica não exerceu na neo-escolástica a função régia que lhe cabe em todo o pensamento humano.


Excessivamente preocupados em refutar o erro de seu tempo, os filósofos católicos dos últimos cem anos deram mais atenção à Criteriologia, à Filosofia Natural, à Filosofia Social, do que à Metafísica.


Daí decorreram conseqüências de não pequena monta.


Falta à neo-escolástica o sopro da Sabedoria que enleva e arrasta as almas. Sabedoria, na ordem natural, é Metafísica. Uma filosofia com pouca Metafísica pode convencer, mas não empolga, não transmite luz ao espírito, não ilumina, e se ilumina, não empolga. É prata, e não ou­ro. Facilmente refugia-se em frases feitas, porém mal compreendidas. Dá azo a que qualquer sofista, invertendo inesperadamente os termos do problema encontre acolhida simpática para as teses mais absurdas e contraditórias.


Essa carência do espírito metafísico parece explicar - ao lado do certo oportunismo, do um insuficiente amor de Deus e de outros defeitos morais inegáveis - a facilidade com que largos setores da neo-escolástica “batizaram” o kantismo, bergsonismo, socialismo, progressismo, etc.


Mas o aspecto mais aviltante da neo-escolástica é a simpatia pela filosofia moderna . Numerosos pensadores neo-escolásticos quiseram ser semicartesíanos para agradar aos cartesianos, semi-kantianos para agradar aos kantianos, semi-hegelianos para agra­dar aos hegelianos, semipositivistas para agradar aos positivistas, semimarxistas para agradar aos marxistas, semibergsonianos para agradar aos bergsonianos. E - sempre "atualizados" – são hoje semi “nadas”, pensadores preteridos e de ultima categoria.


O esquecimento do aspecto platônico de São Tomás pode ser notado pela ausência de algumas abordagens. Simbolismo, exemplaridade, arquetipia, ordem e estética do Universo, participação, papel do amor e da vontade no ato cognitivo, eis temas pouco versados nas obras da neo-escolástica, mas que, representam o aspecto platônico sem o qual a verdadeira filosofia de São Tomás fica empobrecida.


Por fim, resta ressaltar o caráter livresco da filosofia que consiste em se fechar dentro do universo dos livros, fazendo a argumentação seguir um percurso de escritos a escritos, de abstrações aos princípios gerais, esquecendo o mundo concreto no qual vivem as pessoas concretas, que são o verdadeiro meio da humanidade. Longe de defender que a Metafísica, enquanto tal, tenha uma finalidade pragmática, ressalto que, como ciência especulativa, seu objeto formal está todo na ordem teórica, contemplativa, que independe das condições de tempo e lugar. Mas o homem vive nesta ter­ra com um fim que deve nortear todas as suas ações, inclusive o filosofar. Ora, a Metafí­sica é um bem como todos os outros que deve contribuir para levar o homem à sua plenitude, e não se fechar numa torre de marfim, alienada do homem, como se o homem que filosofa pretendesse sair do real e constituir uma realidade só ideal. Um filosofar sem finalidade, é uma anormalidade.


O “FINIS OPERANTIS” do filósofo não pode ser uma contemplação diletante, é preciso entender a vida segundos as exigências da ordem do ser.