SE O TEMPO FOSSE OURO..., TALVEZ PUDESSES PERDÊ-LO. - MAS O TEMPO É VIDA, E TU NÃO SABES QUANTA TE RESTA.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

MÚSICA DE MASSA: ROCK E POP, "um culto industrializado de banalidades"

ANTES DE TUDO, LEIA E OBSERVE: 

CULTO À BANALIDADE





"Com relação a isso, música "rock" é expressão de paixões elementares, que nas grandes reuniões de música rock tem assumido caracteres cultuais, isto é, de um contra culto que se opõe ao culto cristão. Ele quer libertar o homem de si mesmo no acontecimento de massa e no "sconvolgimento" na inversão, [em italiano,quer dizer também deturpação] mediante o ritmo, o rumor, e os efeitos luminosos, fazendo precipitar quem nele participa no poder primitivo do Todo, mediante o êxtase da dilaceração dos próprios limites", A MUSICA ROCK E POP SÃO "um culto industrializado de banalidades"

(Cardeal Joseph Ratzinger, Introduzione allo Spirito della liturgia, San Paolo, Milano, 2.001, p. 144").





TRÊS ETAPAS INICIAIS DO ROCK

1) INSTIGAR A SEXUALIDADE
https://www.youtube.com/watch?v=geVeTQT3UiY
OBSERVAR O COMPORTAMENTO HISTÉRICO DAS FÃS

2)INSTIGAR A BRUTALIDADE

https://www.youtube.com/watch?v=MVa4q-YVjD8

3)PREPARAÇÃO PARA O BIZARRO
https://www.youtube.com/watch?v=PxWzMLDPBmU


Observando os exemplos acima, o que você acha que a  cultura pop que você curte  explora? dê exemplos.
Entregar individualmente por escrito.



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O VERDADEIRO PAPEL DA RELIGIÃO NA VIDA PUBLICA.



ELIZABETH II

Sua Santidade,

tenho o prazer de dar-Lhe as boas vindas ao Reino Unido, e particularmente à Escócia, em sua primeira visita como Papa. Recordo-me com grande prazer da memorável visita pastoral do Papa João Paulo II a este país em 1982. Eu também tenho memórias vívidas de minhas quatro visitas ao Vaticano, e de encontrar alguns de vossos predecessores em outras ocasiões. Sou muito grata a eles por receberem, ao longo dos anos, muitos de membros de minha família com a habitual hospitalidade.

Muita coisa mudou no mundo durante os quase 30 anos desde a visita do Papa João Paulo II. Neste país, nós agradecemos profundamente o envolvimento da Santa Sé na considerável melhoria na situação na Irlanda do Norte. Em outros lugares, a queda dos regimes totalitários ao longo da Europa Central e Oriental tem permitido uma maior liberdade para centenas de milhões de pessoas. A Santa Sé continua a ter um papel importante nas questões internacionais, em defesa da paz e desenvolvimento e na resolução de problemas comuns, como a pobreza e a mudança climática.

Sua Santidade, sua presença aqui hoje lembra-nos de nossa herança cristã comum, e da contribuição dos cristãos para a promoção da paz mundial e o desenvolvimento econômico e social dos países menos prósperos do mundo. Estamos todos cientes da contribuição especial da Igreja Católica Romana, particularmente de seu ministério para os mais pobres e mais necessitados da sociedade, seus cuidados com os desabrigados e no ensino ministrado por sua extensa rede de escolas.

Religião sempre foi um elemento crucial para a identidade nacional e a autoconsciência histórica. Isso tem feito da relação entre os diferentes credos um fator fundamental para a necessária cooperação dentro e entre Estados-nação. É, portanto, vital incentivar uma maior e respeitosa compreensão mútua. Sabemos por experiência que, através do diálogo comprometido, antigas suspeitas podem ser transcendidas e uma maior confiança mútua estabelecida.

Sei que a reconciliação foi um tema central na vida do Cardeal John Henry Newman, de quem irás realizar uma Missa de Beatificação no domingo. Um homem que lutou com a dúvida e a incerteza, sua contribuição para a compreensão do Cristianismo continua a influenciar muitos. Apraz-me que sua visita será também oportunidade para aprofundar o relacionamento entre a Igreja Católica Romana e as estabelecidas Igreja da Inglaterra e Igreja da Escócia.

Sua Santidade, nos últimos tempos, o senhor disse que "as religiões jamais podem se tornar veículos de ódio, que jamais, invocando o nome de Deus, o mal e a violência podem ser justificados". Hoje, neste país, estamos unidos nessa convicção. Afirmamos que a liberdade de culto está no centro de nossa sociedade tolerante e democrática.

Em nome do povo do Reino Unido, desejo-Lhe a mais proveitosa e memorável visita.



“A religião não é um problema, e sim uma contribuição vital para o debate nacional”




Discurso na Westminster Hall

LONDRES, sexta-feira, 17 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, o discurso que o Papa Bento XVI dirigiu hoje aos representantes do mundo político, social, acadêmico, cultural e empresarial britânico, assim como aos membros do Corpo Diplomático e aos líderes religiosos.

* * *

Senhor Orador:

Obrigado por suas palavras de boas-vindas em nome desta distinta assembleia. Ao dirigir-me a vós, sou consciente do grande privilégio que me foi concedido de poder falar ao povo britânico e aos seus representantes no Westminster Hall, um edifício de significado único na história civil e política do povo destas ilhas. Permiti-me expressar igualmente minha estima pelo Parlamento, presente neste lugar há séculos e que teve uma profunda influência no desenvolvimento dos governos democráticos entre as nações, especialmente na Commonwealth e no mundo de língua inglesa em geral. Vossa tradição jurídica - common law - serve de base para os sistemas legais de muitos lugares do mundo, e vossa visão particular dos respectivos direitos e deveres do Estado e das pessoas, assim como da separação de poderes, continua inspirando muitos no mundo inteiro.

Ao falar-vos neste histórico lugar, penso nos inúmeros homens e mulheres que, durante séculos, participaram dos memoráveis acontecimentos vividos entre estes muros e que determinaram as vidas de muitas gerações de britânicos e de outras muitas pessoas. Em particular, eu gostaria de recordar a figura de São Tomás Moro, o grande erudito inglês e homem de Estado, que é admirado por crentes e não-crentes pela integridade com que foi fiel à sua consciência, inclusive à custa de contrariar o soberano de quem era um "bom servidor", pois escolheu servir primeiro a Deus. O dilema que Moro enfrentou naqueles tempos difíceis, a perene questão da relação entre o que se deve ao césar e o que se deve a Deus, me oferece a oportunidade de refletir brevemente convosco sobre o lugar apropriado das crenças religiosas no processo político.

A tradição parlamentar deste país deve muito ao instinto nacional de moderação, ao desejo de alcançar um genuíno equilíbrio entre as legítimas reivindicações do governo e os direitos daqueles que estão sujeitos a ele. Enquanto foram dados passos decisivos em muitos momentos da vossa história para delimitar o exercício do poder, as instituições políticas da nação puderam desenvolver um notável grau de estabilidade. Neste processo, a Grã-Bretanha se configurou como uma democracia pluralista que valoriza enormemente a liberdade de expressão, a liberdade de afiliação política e o respeito pelo papel da lei, com um profundo sentido dos direitos e deveres individuais e da igualdade de todos os cidadãos perante a lei. Ainda que com outra linguagem, a doutrina social da Igreja tem muito em comum com esta perspectiva, em sua preocupação primordial pela proteção da dignidade única de toda pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, e em sua ênfase nos deveres da autoridade civil para a promoção do bem comum.

Contudo, as questões fundamentais em jogo na causa de Tomás Moro continuam apresentando-se hoje em termos que variam segundo as novas condições sociais. Cada geração, ao tentar progredir no bem comum, deve perguntar-se novamente: que exigências os governos podem impor aos cidadãos de maneira razoável? E que alcance podem ter? Em nome de que autoridade os dilemas morais podem ser resolvidos? Estas questões nos conduzem diretamente à fundamentação ética da vida civil. Se os princípios éticos que sustentam o processo democrático não se regem por nada mais sólido que o mero consenso social, então este processo se apresenta evidentemente frágil. Aqui reside o verdadeiro desafio para a democracia.

A recente crise financeira global mostrou claramente a inadequação de soluções pragmáticas e a curto prazo relativas a complexos problemas sociais e éticos. É opinião amplamente compartilhada que a falta de uma base ética sólida na atividade econômica contribuiu para agravar as dificuldades que agora milhões de pessoas estão padecendo no mundo inteiro. Assim como "toda decisão econômica tem consequências de caráter moral" (Caritas in veritate, 37), igualmente, no âmbito político, a dimensão ética da política tem consequências de tal alcance, que nenhum governo pode se permitir ignorar. Encontramos um bom exemplo disso em uma das conquistas particularmente notáveis do Parlamento Britânico: a abolição do tráfico de escravos. A campanha que conduziu a promulgar este marco legislativo estava construída sobre firmes princípios éticos, enraizados na lei natural, e ofereceu uma contribuição para a civilização da qual esta nação pode estar orgulhosa.

Então, o ponto central desta questão é o seguinte: onde se encontra a fundamentação ética das deliberações políticas? A tradição católica afirma que as normas objetivas para uma ação justa de governo são acessíveis à razão, prescindindo do conteúdo da revelação. Neste sentido, o papel da religião no debate político não é tanto proporcionar tais normas, como se os não-crentes não pudessem conhecê-las. Menos ainda propor soluções políticas concretas, algo que está totalmente fora da competência da religião. Seu papel consiste, ao contrário, em ajudar a purificar e iluminar a aplicação da razão à descoberta de princípios morais objetivos. Este papel "corretivo" da religião com relação à razão nem sempre foi bem-vindo, em parte devido a expressões deformadas da religião, tais como o sectarismo e o fundamentalismo, que podem ser percebidas como geradoras de sérios problemas sociais. E, por sua vez, tais distorções da religião surgem quando se presta uma atenção insuficiente ao papel purificador e estruturador da razão com relação à religião. Trata-se de um processo em duplo sentido. Sem a ajuda corretiva da religião, a razão pode ser também presa de distorções, como quando é manipulada pelas ideologias ou se aplica de forma parcial em detrimento da consideração plena da dignidade da pessoa humana. Depois de tudo, tal abuso da razão foi o que provocou o tráfico de escravos, em primeiro lugar, e muitos outros males sociais, particularmente a difusão das ideologias totalitárias do século XX. Por isso, desejo indicar que o mundo da razão e o mundo da fé - o mundo da racionalidade secular e o mundo das crenças religiosas - precisam um do outro e não deveriam ter medo de estabelecer um diálogo profundo e contínuo, pelo bem da nossa civilização.

Em outras palavras, a religião não é um problema que os legisladores devam solucionar, mas uma contribuição vital para o debate nacional. Partindo desse ponto de vista, não posso menos que manifestar minha preocupação pela crescente marginalização da religião, especialmente do cristianismo, em alguns lugares, inclusive em nações que outorgam uma grande ênfase à tolerância. Há alguns que desejam que a voz da religião se silencie ou pelo menos que se relegue à esfera meramente privada. Há também os que defendem que a celebração pública de festas como o Natal deveriam ser abolidas, segundo a discutível convicção de que este ofende os membros de outras religiões ou de nenhuma. E há outros que sustentam - paradoxalmente com a intenção de suprimir a discriminação - que se deveria pedir às vezes aos cristãos que desempenham um papel público que ajam contra a sua consciência. Estes são sinais preocupantes de um fracasso na estima não só dos direitos dos crentes à liberdade de consciência e à liberdade religiosa, mas também do legítimo papel da religião na vida pública. Eu gostaria de convidar todos vós, portanto, em seus respectivos campos de influência, a buscar meios de promoção e incentivo do diálogo entre fé e razão em todos os âmbitos da vida nacional.

Vossa disposição a agir assim já está implícita no convite sem precedentes que me fizestes hoje. E se vê refletida na preocupação em diversos âmbitos nos quais vosso governo trabalha com a Santa Sé. No âmbito da paz, houve conversas para a elaboração de um tratado internacional sobre o comércio de armas; com relação aos direitos humanos, a Santa Sé e o Reino Unido se congratularam pela difusão da democracia, especialmente nos últimos 65 anos; no campo do desenvolvimento, colaborou-se na redução da dívida, no comércio justo e na ajuda ao desenvolvimento, especialmente por meio do International Finance Facility, do International Immunization Bond e do Advanced Market Commitment. Igualmente, a Santa Sé tem interesse em colaborar com o Reino Unido na busca de novos caminhos de promoção da responsabilidade com o meio ambiente, em benefício de todos.

Observo que o governo atual compromete o Reino Unido a designar 0,7% da renda nacional à ajuda ao desenvolvimento até 2013. Nos últimos anos, foi alentador perceber sinais positivos de um crescimento mundial da solidariedade para com os pobres. No entanto, para concretizar esta solidariedade em ações eficazes, é preciso ter novas ideias, que melhorem as condições de vida em muitas áreas importantes, tais como a produção de alimentos, a água potável, a criação de empregos, a educação, o apoio às famílias, sobretudo migrantes, e a atenção básica de saúde. Onde há vidas humanas envolvidas, o tempo é sempre limitado: o mundo também foi testemunha dos ingentes recursos que os governos podem empregar no resgate de instituições financeiras consideradas "grandes demais para que fracassem". Certamente, o desenvolvimento humano integral dos povos do mundo não é menos importante. Eis aqui uma empresa digna da atenção mundial, que é, na verdade, "grande demais para que fracasse".

Esta visão geral da cooperação recente entre o Reino Unido e a Santa Sé mostra quanto progresso se realizou nos anos transcorridos desde o estabelecimento de relações diplomáticas bilaterais, promovendo no mundo inteiro os muitos valores fundamentais que compartilhamos. Confio e rezo para que esta relação continue dando frutos e que se reflita em uma crescente aceitação da necessidade de diálogo e de respeito em todos os níveis da sociedade, entre o mundo da razão e o mundo da fé. Tenho certeza de que, também dentro deste país, há muitas áreas nas quais a Igreja e as autoridades públicas podem trabalhar conjuntamente pelo bem dos cidadãos, em consonância com o histórico costume deste Parlamento de invocar a assistência do Espírito sobre os que buscam melhorar as condições de toda a humanidade. Para que tal cooperação seja possível, as entidades religiosas - incluídas as instituições vinculadas à Igreja Católica - precisam ter liberdade de ação conforme seus próprios princípios e convicções específicas, baseadas na fé e no magistério oficial da Igreja. Assim, serão garantidos direitos fundamentais como a liberdade religiosa, a liberdade de consciência e a liberdade de associação. Os anjos que nos contemplam do esplêndido céu desta antiga sala nos recordam a longa tradição na qual a democracia parlamentar britânica se desenvolveu. Recordam-nos que Deus vela constantemente para guiar-nos e proteger-nos; e, finalmente, convidam-nos a reconhecer a contribuição vital que a religião ofereceu e pode continuar oferecendo à vida da nação.

Senhor Orador, agradeço mais uma vez pela oportunidade que me ofereceu de poder dirigir-me brevemente a esta distinta assembleia. Asseguro-vos meus melhores desejos e minhas orações, por vós e pelos frutuosos trabalhos das duas Câmaras deste antigo Parlamento. Obrigado e que Deus abençoe todos vós.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

NOBREZA, IMITAÇÃO E EDUCAÇÃO .



ASSISTA O VÍDEO DA CORAÇÃO DA RAINHA ELIZABETE II, OBSERVE AS RELAÇÕES ENTRE AS VÁRIAS CLASSES SOCIAIS.
DEPOIS LEIA O TEXTO E:
1) EXPLIQUE A IMITAÇÃO COMO FATOR DE EDUCAÇÃO OU DE "DES-EDUCAÇÃO DO POVO."
2) QUAL OS EXEMPLOS QUE VC PODE OBSERVAR NO VÍDEO?
3) QUAIS EXEMPLOS QUE NOS SÃO PASSADO HOJE NOS PROGRAMAS DE TV? ELES NOS EDUCAM? SIM? NÃO? EXPLIQUE.
4) MENCIONE OS PRINCIPAIS ASPECTOS DO TEXTO.
EM DUPLAS - PAPEL SUFITE BRANCO , CAPA PADRÃO, MANUSCRITO, ENTREGA ENTRE 18 E 22 DE OUTUBRO.


https://www.youtube.com/watch?v=wKzlKwpm17U



EDUCAÇÃO E NOBREZA, A IMITAÇÃO DA NOBREZA E A IMITAÇÃO PARA A IMBECILIZAÇÃO DO POVO.

*A dependência de um homem em relação a outro

De acordo com a boa doutrina da sociedade liberal, tive ocasião de mostrar que o normal do homem, é ser inteiramente sui juris livre, maior de 21 anos de idade, que não obedece a ninguém a não ser ao Estado, não tem ninguém abaixo de si porque só quem tem alguém abaixo de si é o Estado.
Mostrei que o oposto disto, na ordem política e social, eram os homens da Idade Média, ligados entre si por determinados vínculos e determinados contratos a outros homens aos quais eles se davam - como superior ou como inferior - de corpo e alma, de maneira a formar um contrato de solidariedade, que tinha na [vassalagem] feudal a sua expressão mais típica, mas que existia em toda a vida e pela qual a relação homem a homem não se fazia apenas através desses contratos de locação de serviço. Fazia-se por um verdadeiro imbricamento de toda a vida, por uma verdadeira interpenetração de todos os interesses, de todos os ideais, gerando da parte do superior a obrigação da proteção, que era o dever do suserano, e gerando da parte do vassalo a obrigação de fidelidade, de obediência.
E então o normal do homem medieval era exatamente não corresponder nunca ao conceito contemporâneo do maior de idade, sui juris, independente, que é dono do seu nariz e que faz o que bem entende.
Esta diferença de realidades gerou um terreno imponderável e importante que devemos analisar, gerou conseqüências de caráter muito interessante.
* O homem contemporâneo imita muito, mas não gosta de dizer que imita
Na sociedade contemporânea, de fato, imita-se.
Quais são as pessoas que se imitam na sociedade contemporânea?
Antes de tudo, em matéria de modas. Em modas, afinal de contas, vivemos da imitação. É preciso saber o que é que está sendo usado, e o que está sendo usado não obedece a nenhuma regra da razão.

POLÍTICA


CANDIDATO A DEPUTADO FEDERAL - 2010
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D. PEDRO II - IMPERADOR DO BRASIL.

Por exemplo, há uns anos atrás, para casamento, era de rigor a pessoa pôr um terno azul e gravata prateada. Hoje já não é assim. E o coitado que sem saber disto, se mete num casamento com uma gravata prateada dos tempos de outrora, é olhado por todo o mundo e sente uns imponderáveis.... "Ele é um pobre atrasado, que ainda não percebeu que não se usa isto para casamento".... Pode usar fora do casamento, mas não nele.
Por que isto?
Porque na cidade de São Paulo um certo grupo de pessoas resolveu empurrar esta regra. Mas esta regra é imposta a um grupo porque outro grupo internacional mais importante adotou esta regra e a lançou. E como esta regra foi lançada bem do alto, ela vem repercutindo até São Paulo.
Notemos que isto é uma tal contradição com os princípios admitidos pela sociedade atual, que ninguém ousará dizer que vive com a atenção vigilante para saber qual o grito da última moda a seguir.
Mesmo uma senhora não terá uma tal formulação, de tal maneira o espírito de revolta de hoje em dia repugna quaisquer imitações. Mas se isso fosse a única imitação não seria nada. O homem contemporâneo imita artistas de cinema, imita as pessoas que imitam os artistas de cinema. Até as casas entram na moda e passam da moda. De maneira que há determinados tipos humanos que entram na moda e depois também saem da moda.
A imitação impõe-se a tudo, determina tudo. O homem contemporâneo imita muito, mas não gosta de dizer que imita.
Imita em modos de trabalho. Por exemplo, de repente generaliza-se uma versão no meio dos advogados: tal tipo de esperteza foi descoberto por fulano que é o último tipo de esperteza. Todos os advogados aprendem e aplicam aquela esperteza. De repente aquela fica banal e aparece uma velhacaria mais velhaca; aquilo passa para a penumbra e a nota do advogado evoluído é outro gênero de velhacaria.
Isto se dá com as construções, com os diagnósticos, com os tratamentos. Há alimentos que entram e saem da medicina.
A imitação é um fenômeno humano, mas essa imitação supõe uma certa dependência. Supondo uma certa dependência, ela é contrária às idéias de igualdade republicana. E por causa disto é um fenômeno ao mesmo tempo muito evidente e mais ou menos clandestino da sociedade contemporânea.
* O homem tem necessidade de um modelo a quem imitar
E em face dessa anomalia, — de uma coisa que o mundo contemporâneo tem de praticar e que pratica de um modo errado e servil, mas de outro lado é uma coisa que tem certa razão de ser, — deveríamos perguntar qual a razão de ser da imitação, qual o limite da imitação e ver como é que essa função da imitação pode ser institucionalizada dentro de uma sociedade.
Para esta institucionalização, o exemplo da Idade Média ser-nos-á da mais alta importância. A imitação propriamente, o que é?
Devemos reconhecer que a maior parte dos homens não têm uma inteligência muito dada à abstração e vê as coisas abstratas na medida em que elas são realizadas em situações concretas.

Lider


sir Winston Churchill - PRIMEIRO MINISTRO DA INGLATERRA QUE LUTOU CONTRA O NAZISMO
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Ernesto Guevara - Lider Comunista.

Por exemplo, o amor materno ou o amor filial, só se chega a conhecer bem quando se conhece uma boa mãe ou um bom filho. Não tendo conhecido uma boa mãe ou um bom filho a pessoa não sabe bem o que é o amor materno ou o amor filial.
Porque abstratamente pode-se saber o que é uma boa mãe: se usará a comparação do pelicano, se usará de outras abstrações ou de outras analogias, e não é preciso ter o conhecimento concreto de uma boa mãe para se saber verdadeiramente o que é amor materno. Mas a maior parte das pessoas não vai ao compêndio para ver o amor que uma mãe deve a seu filho; elas analisam uma boa mãe com seu bom filho, intuem se aquilo está direito e daí depreendem algumas determinadas regras.
Quer dizer, a inteligência humana é, por sua natureza, concreta. Ela se volta para as situações de caráter concreto. É vendo que certas situações concretas estão em ordem que ela acaba compreendendo teoricamente como a coisa deve ser. Os conceitos não descem das abstrações para a Terra, mas eles sobem desta para as abstrações.
Eu tive um colega que, aos 16 anos, para manter a conversa em sociedade tinha um manual de conversação e, depois, quando ia às festas, levantava as conversas lidas no manual.
É uma inteligência deformada, porque não é assim que se aprende a conversar. Aprende-se a conversar, conversando. Muito tempo depois a gente percebe as regras que seguiu para conversar. A inteligência humana vê as situações concretas e das situações concretas sobe aos ápices. Isto dá a fundamentação do ser.
O homem não pratica a virtude lendo a bíblia, lendo uma doutrina qualquer, e depois cuidando de praticar a virtude. Ele vê pessoas virtuosas e aqueles exemplos de virtude lhe mostram praticamente o que a virtude é. Ao mesmo tempo, em um livro de filosofia, ele vai ver o que é a virtude. Se essas duas coisas se justapõem, ele tem uma noção da virtude. Mas é por meio do exemplo que ele tem uma noção viva, concreta das coisas; é por meio do exemplo que ele forma seu espírito.
O exemplo tem, dentro da vida social, um papel primordial. Papel primordial no que diz respeito à virtude, no sentido mais amplo da palavra. Não só à virtude moral, estritamente falando, mas a tudo quanto é qualidade ou capacidade.
Suponhamos, por exemplo, bom gosto. Como se adquire? Bom gosto é uma qualidade inata, mas muita gente o desenvolve vendo outras pessoas de bom gosto, ainda que seja um gosto profundamente diferente do nosso.
Mas é no contato com elas, vendo o que elas fazem, ouvindo o que dizem, procurando imitá-las, é que a gente acaba compreendendo como é o bom gosto.
Quer dizer, é preciso ter uma porção de situações concretas para aprender depois como as coisas realmente devem ser.

QUEM É O PADRE?

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* Uma das mais importantes funções da nobreza é servir de modelo
Esta consideração nos leva a uma idéia um pouco mais alta. Tínhamos visto as múltiplas funções da nobreza. Faltava-nos analisar uma função que é uma função muito importante: a de elite.
Qual é o papel do nobre?
O nobre, na ordem psicológica das coisas, é constituído exatamente para ser imitado. O nobre é um homem de uma organização social, constituído para servir de exemplo em tudo, e para ser imitado em tudo.
Deve ter as fórmulas de vida, as fórmulas de pensamento, de existência, de ação, deve servir de modelo e padrão para todos. E todo o mundo, na consideração daqueles nobres, deve modelar a sua vida. Esta é uma das mais importantes funções da nobreza.
De que maneira a nobreza realiza esta função?
Por uma forma que assim poderia ser definida: vamos tomar uma corrente elétrica que passa por determinado metal e ninguém vê. Tocando com um dedo ali, sente-se um choque, mas não se percebe a corrente. Mas o tungstênio, por exemplo, oferece à eletricidade uma certa resistência e em conseqüência desta resistência produz uma incandescência. Aquela energia elétrica passando pelo tungstênio, se transforma em luz. Então, daí vem a iluminação. Eu diria então que o papel da nobreza em relação à inteligência, ao estudo, à cultura, é o papel do tungstênio.
O intelectual, o professor universitário, estuda, acumula idéias, forma princípios e os ensina às classes altas de um país. O professor universitário, o intelectual, não são necessariamente de classe alta, porque a inteligência tem esta coisa meio democrática de florescer em qualquer classe.
De maneira que tomando esta circunstância de que o espírito sopra onde quer, o intelectual não é provavelmente nem necessariamente um homem de alta sociedade. Mas venha de onde vier, o papel dele é ler e estudar. Depois ele forma determinados intelectuais de qualidade secundária, que são preceptores.
Um preceptor é um homem muito inteligente, mas de um feitio de inteligência diferente. Ele recebe a alta cultura do professor universitário e vai formar crianças com isto. Ele transforma a alta cultura em mercadoria pedagógica, e ele sabe dar uma educação na qual esta alta cultura está impregnada.
Este preceptor, altamente eletrificado pelas eletricidades da alta cultura, vai formar crianças nobres. E estas crianças nobres que ele forma são crianças que acabam tendo um grande discernimento intelectual, mas já em estado de tungstênio. A cultura passa pela cabeça dessas crianças, não para descobrirem fórmulas de pensamento, mas para organizarem a vida de acordo com os princípios que receberam.
Por exemplo, eu imagino São Tomás de Aquino. Como é que a Escolástica de São Tomás de Aquino poderia se tornar um valor cultural dentro da sociedade medieval? Seria por causa dos bandos de estudantes que o acompanharam?
Estes estudantes eram homens secundários na vida medieval. Entre esses estudantes havia alguns que tinham a educação de famílias nobres da Idade Média. Educavam crianças dentro da lógica, das convicções, do espírito de São Tomás.
Essas crianças não iam continuar a Filosofia. Essas crianças iam viver, iam organizar a vida, iluminadas pelo pensamento de São Tomás de Aquino. De maneira que iam governar escolasticamente, iam divertir-se escolasticamente, iam construir escolasticamente, iam transformar em ação, em vida, aquilo que na cabeça de São Tomás tinha sido puro pensamento.
A função do nobre é, então, transformar o pensamento em vida, a doutrina em realidade. Produzir essas organizações políticas, sociais, esses sistemas artísticos. São esses tipos de homens, — individualmente considerados, — altamente aculturados em que tudo é impregnado de pensamentos, iluminado por pensamentos, embora eles mesmos não sejam puros intelectuais, que tomam a realidade, a manipulam, colocam nela toda a integridade do intelectual, preparam organizações sociais cintilantes de radioatividade intelectual. Estão entre a inteligência e a prática e aí está o papel da nobreza.
O nobre toma a doutrina, concebe-a, formula-a como ela lhe foi dada pelo homem de pensamento, e depois inaugura sistemas de vida que estão dentro desta linha.
Por exemplo, com respeito à relação com o inimigo, a doutrina católica tem uma série de preceitos: o inimigo deve ser combatido, mas temos deveres em relação a ele. Temos o dever da lealdade em relação ao inimigo, devemos combater com armas que não sejam infames nem nefandas.
Por outro lado, nosso ódio ao inimigo é um ódio em certa medida legítimo, mas é um ódio que é proporcionado à gravidade da injúria que recebemos. De maneira que não podemos inferir ao inimigo um dano atroz por uma injúria que, por sua natureza, não é atroz. Por outro lado ao inimigo mesmo, devemos um certo respeito. Por fim, ao inimigo, além do ódio, devemos também amor e por causa disso, em certas circunstâncias, nós devemos ter em relação ao inimigo tais atos e tais procedimentos.
Isto é excogitado pelo teólogo, pelo filósofo.
O que faz um nobre?
Ele constituía as regras de combate da Idade Média, que cabem debaixo do título geral de cavalheirismo. Exatamente a idéia de que o inimigo deve ser combatido num duelo, mas num duelo frente a frente, de acordo com determinadas regras, em que os homens se medem por sua coragem e não por ciladas infames, é uma manifestação de respeito que cada combatente tem para consigo mesmo e para o outro combatente.
Vemos até que o combate é verdadeiro combate, e que como a guerra é movida por um ódio que pode ser um ódio santo, ela visa o extermínio do outro, mas visa também que quando, por uma razão qualquer, o combatente está posto fora de combate, cessado o combate, cessa o ódio, começa o amor. É o respeito ao prisioneiro, ao ferido, a proteção ao adversário fraco, etc.
Quer dizer, de um conjunto de princípios de moral, um nobre toma um estilo de guerrear. E esse estilo de guerrear se generaliza entre os nobres do Ocidente, constitui um costume que, por sua vez, constitui um valor de toda a civilização.
Temos então princípios; a nobreza os transforma em costumes, estilos de vida. E esses costumes e estilos de vida acabam sendo a própria realização da vida social. O nobre é, portanto, um exemplo que deve ser imitado.
Ficamos então diante do problema da imitação, em termos da Idade Média, ficamos colocados neste princípio: a imitação é uma coisa tão justa, tão legítima, que ela é até institucionalizada. E existe uma classe que é destinada a servir de exemplo a outras classes que devem imitá-la. Nisto está exatamente uma das mais altas responsabilidades da nobreza.
Por exemplo, o prazer. O Cristianismo dá a respeito do prazer certas noções de caráter geral. O prazer deve ser antes de tudo conforme a lei de Deus. Não deve ter nenhum atentado à moral e, pelo contrário, deve quanto possível desenvolver a virtude. Em segundo lugar, o prazer deve ser uma verdadeira distensão. Não podemos conceber prazeres aplicados, prazeres esforçados, pois acabam não sendo nenhum prazer.

MODA

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Com estes princípios alguém aprende a se divertir?

Imaginem que um dos senhores me dissesse: "Acho a vida maçante e não sei me divertir".
Eu diria: "Meu caro, dois conselhos..". E diria o que disse há pouco. Nada mais ... por quê? Porque daí não se deduz nada.
Dizer: "Faça uma distensão honesta e você se divertirá".
Vem logo a pergunta: "Mas o que é uma distensão? E depois, como fazer uma distensão honesta? Como organizar para mim mesmo uma distensão honesta? Não sei".
É simples. Distensão é o contrário de tensão. É um conceito negativo. Se quer aprender a distender-se, veja aquilo que o relaxa a si mesmo e pratique isto.
Entretanto, não se faz isto com princípio. Exatamente há uma classe que tem esta função. Imaginem um estilo de distração honesto que serve para uma determinada época, para uma determinada mentalidade, para um determinado povo e um determinado lugar. Ele se propaga e se propagando ensina os outros a viver.
Temos aí a função da imitação e a função da nobreza.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cardeal John Henry Newman - UM DOS MAIORES EXPOENTES DO MOVIMENTO DE OXFORD




“Consciência é a voz de Deus na natureza e no coração do homem... A Consciência é o vigário primitivo de Cristo, um profeta nas informações, um monarca na peremptoriedade, um padre nas bênçãos e anátemas... A consciência tem seus direitos porque tem seus deveres... Aquele que age contra a sua consciência perde a alma”.



“se olhasse um espelho e não visse meu rosto, provaria o mesmo tipo de sentimento que, efetivamente, se apodera de mim cada vez que examino este mundo frenético e não vejo o reflexo do seu Criador”


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O teólogo e escritor John Henry Newman, UM DOS MAIORES EXPOENTES DO MOVIMENTO DE OXFORD, foi o clérigo mais eminente da Inglaterra do século XIX. Nasceu em Londres no dia 21 de fevereiro de 1801. Sua família era de origem calvinista, sendo a mãe, Jemina Fourdrinier, uma huguenote e o pai, John Newman, um cristão com opiniões tolerantes a respeito de religião. Newman fez os estudos superiores na Universidade de Oxford e foi ordenado pastor da Igreja Anglicana em 1824. Se converteu ao catolicismo em 1845, recebendo a ordenação presbiteral, como sacerdote da Congregação do Oratório de São Felipe Neri, em Roma no dia 30 de maio de 1847. Foi criado cardeal diácono pelo papa Leão XIII em 12 de maio de 1879, antes da hierarquia católica ser reconstituída na Inglaterra. Faleceu em 11 de agosto de 1890.




Homilia na beatificação de John Henry Newman

“O coração fala ao coração”

BIRMINGHAM, domingo, 19 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a homilia que Bento XVI pronunciou hoje, ao presidir, no Wimblendon Park de Birmingham, a Celebração Eucarística de beatificação de John Henry Newman (1801-1890), cardeal e fundador dos oratórios de São Felipe Néri, na Inglaterra.

* * *

Queridos irmãos e irmãs em Cristo:

Estamos aqui em Birmingham em um dia realmente feliz. Em primeiro lugar, porque é o dia do Senhor, o domingo, dia em que o Senhor Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e transformou para sempre o curso da história humana, oferecendo vida e esperança a todos os que vivem na escuridão e nas sombras da morte. É a razão pela qual os cristãos do mundo inteiro se reúnem neste dia para louvar e dar graças a Deus pelas maravilhas que Ele fez por nós. Este domingo, em particular, representa também um momento significativo na vida da nação britânica, ao ser o dia escolhido para comemorar o 70º aniversário da Batalha da Inglaterra. Para mim, que estive entre os que viveram e sofreram os escuros dias do regime nazista na Alemanha, é profundamente comovente estar conosco nesta ocasião e poder recordar a tantos concidadãos vossos que sacrificaram suas vidas, resistindo com garra às forças desta ideologia demoníaca. Penso em particular na vizinha Coventry, que sofreu duríssimos bombardeios, com numerosas vítimas, em novembro de 1940. Setenta anos depois, recordamos com vergonha e horror o espantoso preço da morte e destruição que a guerra traz consigo; e renovamos nossa determinação de trabalhar pela paz e pela reconciliação, onde quer que ameace um conflito. Mas existe outra razão, mais alegre, pela qual este dia é especial para a Grã-Bretanha, para o centro da Inglaterra, para Birmingham. Este é o dia em que formalmente o cardeal John Henry Newman foi elevado aos altares e declarado beato.

Agradeço ao arcebispo Bernard Longley por seu cordial acolhimento ao começar a Missa nesta manhã. Agradeço a todos os que trabalharam tão duramente durante tantos anos na promoção da causa do cardeal Newman, incluindo os padres do Oratório de Birmingham e os membros da Família Espiritual Das Werk. E saúdo todos vós, que viestes de diferentes lugares da Grã-Bretanha, Irlanda e outros pontos mais distantes; obrigado pela vossa presença nesta celebração, na qual louvamos e damos glória a Deus pelas virtudes heroicas deste santo inglês.

A Inglaterra tem uma longa tradição de santos mártires, cujo valente testemunho sustentou e inspirou a comunidade católica local durante séculos. É justo e conveniente reconhecer hoje a santidade de um confessor, um filho desta nação que, ainda que não tenha sido chamado a derramar o sangue pelo Senhor, jamais se cansou de dar um testemunho eloquente d'Ele ao longo de uma vida entregue ao ministério sacerdotal, especialmente a pregar, lecionar e escrever. É digno de fazer parte da longa fila de santos e eruditos destas ilhas: São Beda, Santa Hilda, São Aelred, o beato Duns Scot, por nomear apenas alguns. No beato John Newman, esta tradição de delicada erudição, profunda sabedoria humana e amor intenso pelo Senhor deu grandes frutos, como sinal da presença constante do Espírito Santo no coração do povo de Deus, suscitando copiosos dons de santidade.

O lema do cardeal Newman, cor ad cor loquitur, "o coração fala ao coração", oferece-nos a perspectiva da sua compreensão da vida cristã como um chamado à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o coração de Deus. Recorda-nos que a fidelidade à oração vai nos transformando gradualmente em semelhança de Deus. Como escreveu em um dos seus muitos e belos sermões, "o hábito da oração, a prática de buscar Deus e o mundo invisível em cada momento, em cada lugar, em cada emergência... digo-vos que a oração tem o que se pode chamar de efeito natural na alma, espiritualizando-a e elevando-a. Um homem já não é o que era antes; gradualmente (...) se vê imbuído de uma série de ideias novas e se vê impregnado de princípios diferentes" (Sermões Paroquiais e Comuns, IV, 230-231). O Evangelho de hoje afirma que ninguém pode servir a dois senhores (cf. Lc 16, 13), e o Beato John Henry, em seus ensinamentos sobre a oração, esclarece como o fiel cristão toma partido por servir seu único e verdadeiro Mestre, que pede só para si nossa devoção incondicional (cf. Mt 23, 10). Newman nos ajuda a entender em que consiste isso para a nossa vida cotidiana: ele nos diz que nosso divino Mestre confiou uma tarefa específica a cada um de nós, um "serviço concreto", confiado de maneira única a cada pessoa concreta: "Tenho minha missão - escreve -, sou um elo na corrente, um vínculo de união entre pessoas. Ele não me criou para o nada. Farei o bem, farei seu trabalho; serei um anjo de paz, um pregador da verdade no lugar que me é próprio. (...) Se o fizer, eu me manterei em seus mandamentos e O servirei nas minhas tarefas" (Meditação e Devoção, 301-2).

O serviço concreto ao qual o beato John Henry foi chamado incluía a aplicação entusiasta da sua inteligência e sua prolífica caneta a muitas das mais urgentes "questões do dia". Suas intuições sobre a relação entre fé e razão, sobre o lugar vital da religião revelada na sociedade civilizada e sobre a necessidade de uma educação esmerada e ampla foram de grande importância, não somente para a Inglaterra vitoriana. Hoje também continuam inspirando e iluminando muitos no mundo inteiro. Eu gostaria de prestar uma homenagem especial à sua visão da educação, que fez tanto por formar o ethos, que é a força motriz das escolas e faculdades católicas atuais. Firmemente contrário a qualquer enfoque reducionista ou utilitarista, buscou condições educativas nas quais pudesse se unificar o esforço intelectual, a disciplina moral e o compromisso religioso. O projeto de fundar uma universidade católica na Irlanda lhe ofereceu a oportunidade de desenvolver suas ideias a respeito disso; e a coleção de discursos que publicou, com o título "A ideia de uma universidade" sustenta um ideal mediante o qual todos os que estão envolvidos na formação acadêmica podem continuar aprendendo. Mais ainda, que melhor meta podem ter os professores de religião que o famoso convite do beato John Henry sobre leigos inteligentes e bem formados? "Quero um laicado que não seja arrogante nem imprudente na hora de falar, nem alvorotado, mas homens que conheçam bem sua religião, que aprofundem nela, que saibam bem onde estão, que saibam o que têm e o que não têm; que conheçam seu credo a tal ponto, que possam prestar contas dele; que conheçam tão bem a história, que possam defendê-la" (A Posição Atual dos Católicos na Inglaterra, IX, 390). Hoje, quando o autor destas palavras foi elevado aos altares, peço que, por meio da sua intercessão e exemplo, todos os que trabalham no campo da educação e da catequese se inspirem com maior ardor na visão tão clara que ele nos deixou.

Ainda que a extensa produção literária sobre sua vida e obras prestou compreensivelmente maior atenção ao legado intelectual de John Henry Newman, nesta ocasião prefiro concluir com uma breve reflexão sobre sua vida sacerdotal, como pastor de almas. Sua visão do ministério pastoral sob o prisma do afeto e da humanidade está expresso de maneira maravilhosa em outro dos seus famosos sermões: "Se vossos sacerdotes fossem anjos, meus irmãos, eles não poderiam compartilhar convosco a dor, sintonizar convosco, não poderiam ter compaixão de vós, sentir ternura por vós e ser indulgentes convosco, como nós podemos; eles não poderiam ser nem modelos nem guias, e não teriam te levado do teu homem velho à vida nova, como eles, que vêm do nosso meio" (Homens, não anjos: os sacerdotes do Evangelho: discursos às congregações mistas, 3). Ele viveu profundamente esta visão tão humana do ministério sacerdotal, em seus desvelos pastorais pelo povo de Birmingham, durante os anos dedicados ao Oratório que ele mesmo fundou, visitando os doentes e os pobres, consolando os tristes ou atendendo os presos. Não é de surpreender que, ao morrer, milhares de pessoas se aglomeravam nas ruas enquanto seu corpo era transladado ao lugar da sua sepultura, a não mais que meia milha daqui; 120 anos depois, uma grande multidão se reuniu novamente para celebrar o reconhecimento eclesial solene da excepcional santidade deste pai de almas tão amado. Que melhor maneira de expressar nossa alegria deste momento que dirigindo-nos ao nosso Pai do céu com gratidão sincera, rezando com as mesmas palavras que o beato John Henry Newman colocou nos lábios do coro celestial dos anjos?

Praise to the Holiest in the height
And in the depth be praise;
In all his words most wonderful,
Most sure in all his ways!

("Seja louvado o Santíssimo no céu,

seja louvado no abismo;

em todas as suas palavras, o mais maravilhoso,

o mais seguro em todos os seus caminhos")

("O sonho de Gerontius")

QUARTO BIMESTRE - POVO E MASSA






EM PRIMEIRO LUGAR LEIA COM ATENÇÃO!


Referencial teórico



Pio XII explica a diferença entre "povo" e "massa"
Trecho da rádio-mensagem de Natal do papa Pio XII, em 1944:

Povo e multidão amorfa ou, como se costuma dizer, «massa», são dois conceitos diversos. O povo vive e se move com vida própria; a massa é por si mesma inerte, e não pode receber movimento sem ser de fora. O povo vive da plenitude da vida dos homens que a compõem, cada um dos quais — em seu próprio lugar e a sua maneira — é pessoa consciente de suas próprias responsabilidades e de suas convicções próprias. A massa, pelo contrário, espera o impulso de fora, joguete fácil nas mãos de um qualquer que explora seus instintos ou impressões, disposta a seguir, cada vez uma, hoje esta, amanhã aquela outra bandeira. Da exuberância de vida de um povo verdadeiro, a vida se difunde abundante e rica no Estado e em todos os seus órgãos, infundindo neles com vigor, que se renova incessantemente, a consciência da própria responsabilidade, o verdadeiro sentimento do bem comum. Da força elementar da massa, habilmente manipulada e usada, pode também servir-se o Estado: nas mãos ambiciosas de um só ou de muitos agrupados artificialmente por tendências egoístas, pode o mesmo Estado, com o apoio da massa reduzida a não ser mais que uma simples máquina, impor seu arbítrio à melhor parte do verdadeiro povo: assim o interesse comum fica gravemente ferido e por muito tempo, e a ferida é muitas vezes dificilmente curável.
Com o dito aparece clara outra conclusão: a massa — como nós acabamos de defini-la — é a inimiga capital da verdadeira democracia e de seu ideal de liberdade e de igualdade.
Em um povo digno de tal nome, o cidadão sente em si mesmo a consciência de sua personalidade, de seus deveres e de seus direitos, de sua liberdade unida ao respeito da liberdade e da dignidade dos demais. Num povo digno de tal nome, todas as desigualdades que procedem não do arbítrio, mas sim da natureza mesma das coisas, desigualdades de cultura, de bens, de posição social — sem menosprezo, é claro, da justiça e da caridade mútua —, não são de nenhuma maneira obstáculo à existência e ao predomínio de um autêntico espírito de comunidade e de fraternidade. Mais ainda, essas desigualdades, longe de prejudicar de maneira alguma a igualdade civil, lhe dão seu significado legítimo, quer dizer, que ante o Estado cada um tem o direito de viver honradamente sua existência pessoal, no modo e nas condições em que os desígnios e a disposição da Providência o tem colocado.
http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/speeches/1944/documents/hf_p-xii_spe_19441224_natale_sp.html




Faça uma pesquisa sobre Adoniran Barbosa e quatro musicas de sua autoria(use o referencial teórico para analisar - o que é retrado nas letras?):

- Apaga o Fogo Mané (Imprima a letra, ouça a gravação original e faça a análise);

- Viaduto Santa Efigênia (Imprima a letra, ouça a gravação original e faça a análise);

- Torresmo à Milanesa (Imprima a letra, ouça a gravação original e faça a análise);

- Saudosa Maloca (Imprima a letra, ouça a gravação original e faça a análise);



Se a sala quiser pode escolher uma musica para cantar com instrumentos musicais.

4) Reflexão (use o referencial teórico para analisar):
A) O QUE É POVO?
B) O QUE É MASSA?
C) QUEM É RETRATADO NA OBRA DE ADONIRAN E DOSTOIÉVSKI?
D) FAÇA UMA COMPARAÇÃO ENTRE A OBRA DE Adoniran Barbosa e de conjuntos atuais: Restart, Lady Gaga, ou algum outro que vc desejar.






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sábado, 31 de julho de 2010

Café Filosófico - Nietzsche




As convicções são cárceres. Mais inimigas da verdade do que as próprias mentiras.

Café Filosófico NIETZSCHE 01



Café Filosófico NIETZSCHE 02



Café Filosófico NIETZSCHE 03



Café Filosófico NIETZSCHE 04



Café Filosófico NIETZSCHE 05



Café Filosófico NIETZSCHE 06



Café Filosófico NIETZSCHE 07

AS CRÍTICAS DO PROFESSOR NIETZSCHE À EDUCAÇÃO DE SEU TEMPO




AS CRÍTICAS DO PROFESSOR NIETZSCHE À EDUCAÇÃO DE SEU TEMPO

Elenilton Neukamp*
http://www.consciencia.org/nietzsche_educacaoneukamp.shtml

Resumo:Os primeiros escritos de Friedrich Nietzsche, pouco comentados, abordam a educação. Neles o filósofo critica as instituições de seu tempo e duas tendências básicas em relação à cultura: a tendência à universalização e a tendência à especialização. Tanto uma quanto outra são vistas como extremamente nefastas, pois contribuem para a massificação e a mediocrização, produzindo uma “barbárie cultivada”. Nietzsche propõe uma educação baseada no modelo dos grandes mestres, que com sua grandeza e genialidade fariam com que toda sociedade se elevasse culturalmente. Contra esta idéia de elevação cultural em prol da vida existem os interesses dos negociantes, do Estado e da ciência, que vêem a educação apenas como um meio para a obtenção de seus fins.

Palavras-chave: Educação, Nietzsche, cultura.
Eixo temático: Educação e Filosofia.
INTRODUÇÃO

Educar os educadores!
Mas os primeiros devem começar
Por se educar a si próprios.
E é para esses que eu escrevo.

Um pensamento perturbador e talvez ainda não pesquisado de forma mais contundente no terreno da educação, é o de Friedrich Nietzsche. Sua filosofia é uma fonte riquíssima de pesquisa e reflexão, pois a educação foi um de seus objetos de estudo além de aparecer, por vezes implicitamente, em toda sua obra. Se levada a extremos, sua filosofia – sobretudo a derradeira – pode ser vista inclusive como impossibilitadora da própria educação. No entanto, neste texto iremos abordar alguns elementos de um Nietzsche pouco conhecido, anterior ao anunciador da “morte de Deus”, que foi professor (entre 1869 e 1879) e teve contato direto com a realidade educacional de sua época, o que permitiu que fizesse críticas agudas ao ensino dos estabelecimentos alemães. Suas “Considerações Intempestivas” ou “Extemporâneas”[1] desferem um ataque profundo à educação de seu tempo e indiretamente ao projeto pedagógico da modernidade como um todo. Estas obras fazem parte do que os comentadores costumam chamar de “primeiro Nietzsche” ou “o primeiro período” de três que corresponderiam a toda sua produção. Nelas o filósofo critica a educação ministrada nas instituições de ensino de seu tempo, acusando-as de apequenarem o homem ao formá-lo apenas para servir aos interesses do Estado, da ciência e do mercado. Nietzsche aponta uma tendência para a potencialização de elementos comuns (e medíocres) dos indivíduos, nivelando-os para sua melhor utilidade ao invés de despertá-los em suas singularidades como seres humanos. Esta tendência de uniformização exacerba a importância da memorização como a forma mais importante para se educar, em detrimento da ação e da criação.

É incomum, ainda, a percepção de Nietzsche como um filósofo que tenha pensado a educação. No entanto, toda sua obra é permeada direta ou indiretamente pela preocupação com a formação de um outro ser humano. Embora apenas em seus primeiros escritos ele trate especificamente do tema educação, a preocupação em transmitir algo e ser compreendido segue aparecendo em toda sua produção intelectual, sobretudo em seu Zaratustra. Como ressalta Scarlett Marton, a leitura dos escritos de Nietzsche sobre educação impressiona pela atualidade, pois “um leitor desatento poderia supor ter diante dos olhos um livro que acaba de ser escrito. E o mesmo poderia pensar um leitor atento – com mais razão até” (MARTON apud DIAS, 2003, p.7) diante do diagnóstico ácido que o filósofo faz de uma cultura decadente, carente de vida e de “unidade de estilo”.
2 NIETZSCHE CONTRA A CULTURA MODERNA

Como breve contextualização do sistema de ensino do tempo de Nietzsche, torna-se interessante lembrar que a Prússia, embora tenha sido a última das potências européias a entrar na época industrial, foi o primeiro Estado a desenvolver um sistema geral de educação. Até o final do século XIX, já havia sido abolido o analfabetismo. O alto índice de escolarização (para a época) e uma estrutura de escolas e instituições superiores que eram vistas como modelares por outros países, contribuem em parte para explicar os ataques de Nietzsche ao que chamou de “tendência à ampliação da cultura”.

A Alemanha, do século XVI ao XVIII era dividida em centenas de Estados independentes e autônomos, que não davam a liberdade necessária para o crescimento de uma intelectualidade. Seus pensadores, então, foram para outros lugares, fora das fronteiras destes Estados em disputa, onde forjaram um pensamento cosmopolita, preocupado sobretudo com os rumos da cultura e alheio aos acontecimentos políticos. A derrota militar sofrida pela Prússia em 1806 para as tropas de Napoleão, ajuda a criar a consciência de que é necessário unir a nação. A forma que o Estado encontra para unificar a nação é através do processo educativo, tornando a escolarização compulsória; educar todo povo torna-se o ideal. Por isso, era obrigatória a formação inicial de três anos nas escolas preparatórias, ou “escolas populares”, que depois davam acesso ao ginásio que durava nove anos.

Na conferência “Sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino” (1872) Nietzsche aborda as instituições de ensino e a educação de seu tempo, principalmente a ministrada no ginásio (Gymnasium)[2], pois para ele esta formação é essencial. Em sua análise, duas tendências mostravam-se nefastas para os rumos das instituições pedagógias: a tendência de ampliação cada vez maior da cultura, e a tendência à redução da cultura através da especialização. Tanto uma quanto a outra tendência eram completamente equivocadas e carregavam pressupostos e “métodos antinaturais de educação”.

A tendência à ampliação é a tentativa de universalização da cultura, de sua extensão a grupos cada vez maiores. Para Nietzsche, esta é uma visão utilitária da cultura pois está dominada por critérios quantitativos: procura-se estender a educação à maior quantidade de pessoas possível, pois o mercado necessita delas.

Além desta necessidade de formar produtores para o mundo do trabalho, baseada numa lógica econômica e não com o intuito de elevação cultural, Nietzsche ainda vislumbra outros interesses nesta tendência à extensão máxima da cultura. Um deles seria o medo da opressão religiosa do passado, fazendo aumentar uma busca de elementos culturais contrários à religião por parte de toda a sociedade. Outro elemento importante é o interesse do Estado que, consciente de seu poder, investe na formação de seus funcionários e de seus exércitos para melhor capacitar-se na luta contra outros Estados.

A outra tendência, de redução da cultura, não tem a mesma força que a anterior mas é tão nefasta quanto aquela. Esta tendência prega a divisão do trabalho nas ciências e a especialização do erudito em determinada área; especialização que “conduz à superficialização do espírito, ao entorpecimento do impulso crítico, emancipatório e criador” (GIACÓIA, 2005, p. 68). O cientista, na sua especialidade “…está acima do vulgus, para tudo mais, quer dizer, para tudo que é importante, não se mostra diferente deste” (NIETZSCHE, 2004, p. 64).

Tanto uma quanto outra tendência vão formando um determinado público medíocre, distante da verdadeira cultura, que terá no jornal seu ponto de confluência. O jornalista, “o senhor do momento”, acaba substituindo os verdadeiros mestres da cultura e é no jornal que os chamados eruditos (especialistas) irão divulgar seus pretensos saberes para o público. Estão colocados todos os ingredientes para a formação de uma “pseudocultura”, que Nietzsche irá chamar de “barbárie cultivada”.

Para Nietzsche a situação desanimadora da educação de seu tempo poderia ser percebida pela leitura dos pedagogos, da pobreza de sua produção que mais pareceria uma brincadeira de crianças. Exatamente na formação básica do ginásio, essencial, era onde reinavam maus profissionais que não tinham a menor delicadeza para o trabalho pedagógigo, para a “mais delicada das técnicas que poderia existir numa arte, a técnica da formação cultural” (ibidem, p.67). Mas como poderiam os professores realizar esta grandiosa tarefa, se eles próprios não haviam sido “iniciados” em uma cultura nobre e superior? Nietzsche lamenta o abandono do projeto de reforma do ensino iniciada no início do século XIX na Alemanha, que objetivava um retorno à Antigüidade clássica e que havia sido abandonado principalmente na proposta de formar os mestres do ginásio dentro da tradição dos antigos gregos.

A massificação e universalização da cultura acabaram gerando também um número excessivo de estabelecimentos de ensino superior, todos voltados para a formação das grandes massas. No entanto, Nietzsche defende a tese de que a natureza produz um número extremamente limitado de homens para a cultura e por isso deveriam existir apenas algumas instituições de ensino superior. Porém, o que se vê é o surgimento de mais e mais estabelecimentos, onde irão lecionar mestres tão medíocres quanto seus alunos. À cultura de massa Nietzsche contrapõe uma cultura voltada para o surgimento dos grandes gênios, indivíduos que deixariam sua marca original para os tempos vindouros e serviriam como parâmetro seguro para avaliar a grandeza de uma época.

Segundo Nietzsche a ampliação e o grande número de escolas serviam apenas aos interesses do Estado que vinculava, assim, a formação nos ginásios com a obtenção de cargos. O Estado moderno percebe que se financiar a produção e a difusão da cultura, pode utilizá-la para seus fins. A cultura passa a ser considerada útil apenas se serve aos interesses do Estado, diferentemente do que se passava na Grécia antiga quando o Estado era o “companheiro de viagem” da cultura (ibidem, p. 99). A elevação cultural com a finalidade de formar o gênio, a exceção, dá lugar a uma formação massificada que uniformiza a todos a partir de características comuns, medíocres. Muitos anos depois, no período derradeiro de seus escritos, Nietzsche dirá em seu Crepúsculo dos Idolos: “O que as “escolas superiores” alemãs sabem fazer de fato é um adestramento brutal para tornar utilizável, explorável ao serviço do Estado uma legião de jovens com uma perda de tempo tão mínima quanto possível. “Educação superior” e legião – aí está uma contradição primordial” (NIETZSCHE, 2005, p. 61).

O adestramento realizado pelas instituições de seu tempo, para Nietzsche, nada tem a ver com a verdadeira cultura. O que cada indivíduo necessita aprender para sua própria sobrevivência é importante, e as experiências que levam-no a tais aprendizados são realmente necessárias. Nietzsche não nega a necessidade de uma educação para a sobrevivência, representada nas escolas técnicas. O que enfatiza é que não há cultura sem o desligamento do “mundo das necessidades”, e que um homem que está ligado à esta luta individual pela vida não pode simplesmente dispor de tempo para alcançar a verdadeira cultura. Uma educação que se propõe como finalidade formar alguém para ocupar um cargo de funcionário ou ganhar dinheiro não pode ser chamada de educação para a cultura, mas apenas uma indicação do caminho que o indivíduo deverá percorrer para manter-se vivo (NIETZSCHE, 2004, p. 104). Trata-se de uma educação que visa a domesticação, a criação de pessoas medíocres e úteis aos ditames de seu tempo. Nietzsche contrapõe a esta domesticação um “adestramento seletivo” que leve o jovem a tornar-se senhor de seus instintos: "o produto deste adestramento não é um indivíduo fabricado em série, adaptado às condições de seu meio… mas um ser autônomo, forte, capaz de crescer a partir do acúmulo de forças deixadas pelas gerações passadas, capaz de mandar em si mesmo…alguém que se atreve a ser ele mesmo” (DIAS, 2003, p. 86).

3 OS MESTRES COMO MODELOS

Os grandes gênios do passado também não tiveram estabelecimentos de ensino, instituições poderosas que contribuíssem com sua formação, por isso tornaram-se grandes apesar de suas épocas e não em decorrência da suposta grandiosidade delas. Assim também como os grandes mestres, segundo Nietzsche, quem estivesse disposto a lutar pela verdadeira cultura, deveria preparar-se para a resistência de seus contemporâneos; a “resistência do mundo estúpido”, nas palavras de Goethe.

Se a educação de seu tempo esforçava-se em formar uma quantidade cada vez maior de funcionários para o Estado, pessoas comuns, consumidores de uma cultura medíocre, onde buscar uma verdadeira formação? Quem seriam os mestres e guias que mostrariam o caminho que levaria à “verdadeira cultura alemã”? Nietzsche encontra no filósofo Arthur Schopenhauer a imagem de figura modelar, um exemplo raro de pensador que havia mantido a coerência entre vida e obra, pois “o exemplo deve ser dado pela vida real e não unicamente pelos livros” (NIETZSCHE, 2004, p. 150).

sexta-feira, 11 de junho de 2010

SEMINÁRIOS DE LITERATURA E FILOSOFIA



"Os espinhos que colhi, são da árvore que plantei"
Lord Byron

LIVROS DISPONÍVEIS NA NET
Fausto E-BOOK
http://www.cultura.dequalidade.com.br/index.php/download/fausto-e-book-goethe/
Frankenstein – e-book – Mary Shelley
http://www.cultura.dequalidade.com.br/index.php/download/frankenstein-e-book-mary-shelley/
O retrato de Dorian Gray
http://books.google.com/books?id=17NMgxBL-xQC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false
Drácula http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/draculap.pdf

sábado, 5 de junho de 2010

O Brasil tem filósofo



A pelo menos oito anos, estamos vivendo um processo acelerado de revolução cultural que consiste na inversão completa de valores e na relativização dos conceitos de bem e mal, manipulados de acordo com a conveniência de perverter a sociedade.
Hoje, falar e escrever corretamente é um preconceito, ser heterossexual é uma exceção, ser Cristão é praticamente um crime, e por ai vai!!!
A corrupção política alcançou uma visibilidade inacreditável (sem que se perceba a minima reação por parte da opinião pública), e , por outro lado, o Estado vai invadindo cada vez mais a consciência do indivíduo com a popularização do “politicamente correto” que, entre outras coisas pretende apagar qualquer memória de Deus na esfera pública.
Esse modo de ver e de pensar as coisas vai penetrando cada vez mais na cabeça das pessoas que começam a reagir histericamente diante de pequenos delitos que atentam contra o politicamente correto, a passo que, reagem bovinamente ante os absurdos praticados e ditos nos mais altos postos do Governo Federal que, comprometem a imagem da nação, além de acobertar a corrupção que custa ao povo milhões de reais.



Para ajudar a você a compreender melhor o que acontece, sugiro uma pesquisa sobre a filosofia no Brasil.
Para introduzir esse estudo, apresentamos aqui o filósofo que está no topo e na contramão de tudo o que esta acontecendo no país. Observando do alto, e, não estando comprometido intelectual nem financeiramente com nenhuma camarilha, Olavo de Carvalho é um autêntico filósofo.

Trabalho em grupo:
Sugerimos então dividir a sala em 4 grupos, para a elaboração de uma pesquisa sobre a vida e a obra de Olavo de Carvalho. Asssistam os videos abaixo e repondam as questões.

Sugerimos o site oficial do Prof. Olavo de Carvalho http://www.olavodecarvalho.org/index.html
Não obstante, existe vasta quantidade de material do autor na net.

Parte individual
A)Deixe sua postagem no blog com nome número e série;

B) Para começar a pesquisa, individualmente, assista a entrevista de Pedro Bial com Olavo de Carvalho e faça a atividade abaixo:


PEDRO BIAL ENTREVISTA OLAVO DE CARVALHO - PARTE 1

"Ninguém pode dar o que não tem nem ensinar o que não sabe. Não há um só filósofo no nosso meio acadêmico, e a prova é que esse meio rejeita, por medo e preconceito, todo filósofo autêntico que apareça dentro ou fora dele. Dizer que uma Marilena Chauí, um Leandro Konder sejam filósofos é um ultraje à filosofia. A primeira é uma professora de ginásio, o segundo é um propagandista barato. Mas é só esse tipo de gente que a universidade aceita. Já o Villém Flusser, um gênio espantoso, acabou desistindo do Brasil e foi publicar seus livros na Alemanha, onde imediatamente foi reconhecido como um dos pensadores mais originais das últimas décadas. No Brasil aqueles entojadinhos da USP faziam pouco dele, empinavam o nariz diante dos seus escritos porque eram publicados em jornal – como se Gabriel Marcel ou Ortega y Gasset também não tivessem sido eminentemente jornalistas. Mário Ferreira dos Santos e Vicente Ferreira da Silva também foram postos para escanteio, e até Miguel Reale, reitor da USP, era discriminado dentro da sua própria universidade. Agora, com quarenta anos de atraso, a USP decidiu absorver o prof. Reale, concedendo ao mestre um lugarzinho modesto ao lado de quinze micos na coletânea Conversas com Filósofos Brasileiros, na qual ele é obviamente o único filósofo presente. Ora, esses quatro nomes – Flusser, Reale e os dois Ferreiras – perfazem o essencial da filosofia brasileira deste século – o que vale dizer que a filosofia esteve rigorosamente fora da universidade, por obra de medíocres e invejosos que se empoleiraram como urubus nas chefias de departamentos. O que a universidade brasileira tem feito contra a filosofia é simplesmente criminoso."



PEDRO BIAL ENTREVISTA OLAVO DE CARVALHO - PARTE 2

A Filosofia, segundo a entendo, é a unidade do saber realizada na unidade da consciência e vice-versa. Creio que essa definição absorve e domina praticamente todas as definições antigas e modernas. Aliás, foi obtida da comparação delas.




PEDRO BIAL ENTREVISTA OLAVO DE CARVALHO - PARTE 3

"A Filosofia, em si, não é uma atividade profissional (e espero que não se torne isso nunca), mas um tipo de know-how que está subentendido, ou deveria estar, em inumeráveis profissões, especialmente o ensino, a pesquisa científica em todas as áreas, as artes, a política, a medicina."




1) Explique o que é o imbecil coletivo.
2) Qual a posição do filósofo sobre o "politicamente correto"? Explique.
3) Mencione 3 temas, tratados na entrevista.
Entregar em folha de almaço, capa padrão.


domingo, 30 de maio de 2010

Platão - Críton



Extraído do livro Diálogos, da coleção Clássicos Cultrix.
Tradução: Jaime Bruna.
Personagens: Sócrates e Critão, dois velhos.
Cena: Uma cela, na prisão de Atenas.

Sócrates- Por que viestes a estas horas, Critão? É madrugada ainda, não é?
Critão- Perfeitamente.
Sócrates- Que horas, precisamente?
Critão- Mal começa a clarear.
Sócrates- Admira-me que o guarda da prisão te haja atendido.
Critão- Ele já se acostumou comigo, Sócrates, de tanto eu freqüentar este lugar;
ademais, deve-me alguns favores.
Sócrates- Acabas de chegar ou faz tempo?
Critão- Faz já algum tempo.
Sócrates- Então, porque não me acordaste logo e sentaste aí calado?
Critão- É que, por Zeus, Sócrates, em teu lugar, eu não gostaria de passar muito tempo acordado numa aflição assim; estou mesmo admirando, há tempo, a placidez do teu sono. Não te acordei de propósito; para que pudesses gozar quanto mais dessa tranqüilidade. Já muitas vezes antes, em toda a nossa vida, te considerei feliz pelo teu gênio, porém muito mais agora, na presente desgraça, pela facilidade e brandura com que a suportas.
Sócrates- Realmente, Critão, eu destoaria, se na minha idade, me agastasse por ter de morrer em breve.
Critão- Outros também, Sócrates, passam por provações assim na mesma idade; no entanto, os anos não os dispensam de se agastarem com a sorte que lhes toca.
Sócrates- Assim é. Mas, afinal, para que vieste tão cedo?
Critão- Para trazer uma notícia, Sócrates, dolorosa e desoladora - não assim para ti, pelo que vejo - mas dolorosa e desoladora para mim e para todos os teus amigos; acho que a poderia contar como uma das que mais o sejam.
Sócrates- Que vem a ser? Chegou de Delos o navio a cuja chegada devo morrer?
Critão- Bem, chegar não chegou, mas calculo que deve aportar hoje, pelo que noticiam pessoas vindas de Súnio e que lá o deixaram. As novas dão a entender que vai aportar hoje, e será fatalmente amanhã, Sócrates que terás de cessar de viver.
Sócrates- Pois bem, Critão, à boa ventura! Se assim apraz aos deuses, assim seja. Todavia, acho que não vai aportar hoje.
Critão- Em que te baseias?
Sócrates- Vou dizê-lo. Devo morrer, penso, no dia seguinte ao da chegada do navio.
Critão- Ao menos assim dizem as autoridades competentes.
Sócrates- Por isso, acho que não vai aportar no dia de hoje, mas no de amanhã. Baseio-me num sonho que acabo de ter esta noite. Talvez mesmo tenha sido oportuno não me haveres despertado.
Critão- Como foi o sonho? Sócrates- Parecia-me que vinha uma mulher formosa, de lindas feições, vestida de branco, me chamava e dizia: "Sócrates, depois de amanhã poderás ter chegado às férteis campinas de Fétia".
Critão- Sonho esquisito, Sócrates!
Sócrates- De sentido claro, ao que penso, Critão.
Critão- Por demais, penso eu. Contudo, meu pobre Sócrates, ainda uma vez, dá-me ouvidos e põe-te a salvo; porque, para mim, se vieres a morrer, a desdita não será uma só; à parte a perda de um amigo como não acharei nenhum igual, acresce que muita gente, que não nos conhece bem, a mim e a ti, pensará que eu, podendo salvar-te, se me dispusesse a gastar dinheiro, não me importei. Ora, existe reputação vergonhosa do que a de fazer caso do dinheiro que dos amigos? O povo não vai acreditar que tu é que não quiseste sair daqui, a despeito de o querermos nós mais que tudo.
Sócrates- Mas para nós, meu caro Critão, é tão importante assim a opinião do povo? A gente melhor, com quem mais importa que nos preocupemos, cuidará que as coisas se terão passado tal como se tiverem passado.
Critão- Mas bem vês, Sócrates, que não se pode deixar de fazer caso também da opinião do povo. Os fatos mesmos de agora dizem claro que o povo é capaz de fazer, não os mais pequeninos dos males, mas como que os maiores; basta que entre eles se espalhem calúnias contra alguém.
Sócrates- Oxalá, Critão, fosse o povo capaz de praticar os maiores males, para ser capaz também dos maiores benefícios! Seria esplêndido. Não o é, porém, nem destes nem daqueles. Incapaz de dar o siso, bem como de tirá-lo, ele obra ao sabor do acaso.
Critão- Vá lá que assim seja. Mas dize-me uma coisa, Sócrates: estás procurando evitar, não é? que eu e os outros amigos teus, caso saias daqui, venhamos a ser molestados pelos sicofantas, sob a acusação de te subtrair daqui, e obrigados a abrir mão de todos os nossos haveres, ou pelo menos de grossas quantias, ou a sofrer, além disso, qualquer outra pena? Se é isso que temes, manda o medo às urtigas. É justo que nós, para salvar-te, corramos esse perigo, e maiores ainda, se for preciso. Vamos, dá-me ouvidos e não proceda de outra maneira.
Sócrates- Estou evitando isso tudo, Critão, e muitas outras coisas.
Critão- Pois não tenhas esse receio. Não é muito o dinheiro que certas pessoas querem receber para levar-te daqui e salvar-te. Depois, não vês como são baratos esses sicofantas? Que não seria preciso gastar muito com eles? Os meus haveres estão a tua disposição e acho que são suficientes; além disso, caso apreensivo por mim, te pareças não devas despender o meu, aí estão aqueles estrangeiros, prontos a gastar; um, até trouxe exatamente para isso dinheiro suficiente, Símias de Tebas; Cebes também está pronto e muitíssimos outros. Por isso, repito, não seja por este receio que desistas de te salvar; tampouco te embaraces, como dizia no tribunal, com a possibilidade de, partindo, não teres do que viver. Em muitos lugares, mesmo no exterior, onde fores parar, acharás amizade; se quiseres ir para a Tessália, tenho lá hóspedes que te darão grande apreço e te oferecerão segurança, de sorte que ninguém na Tessália te molestará. Demais, Sócrates, acho que cometes uma injustiça entregando-te, quando te podes salvar; estás trabalhando para que te aconteça exatamente aquilo a que visariam teus inimigos. - a que visaram quando decidiram tua perda. De mais a mais, ao meu ver, atraiçoa também os teus filhos; podendo criá-los e educá-los, tu queres ir-te, abandonando-os; no que te concerne, fiquem eles entregues à sua sorte; a deles, é natural, será a sorte costumeira dos que caem na orfandade. A gente deve ou não ter filhos, ou sofrer juntamente com eles, criando-os e educando-os. Tu me dás a impressão de estarem escolhendo a sua maior comodidade. Deve-se, porém, escolher o que escolheria um homem bom e de brio, ao menos quando vives dizendo não ter outra preocupação na vida senão a virtude. Eu, sabes? tenho vergonha por ti e por todos nós, os teus amigos, de que atribuam a covardia de nossa parte tudo o que aconteceu contigo: o teu comparecimento diante do tribunal, quando podias deixar de comparecer; a maneira pela qual o processo mesmo correu; por fim, este desfecho, como que o mais ridículo da história, a impressão de que nos esgueiramos, covardes e sem brio, sem termos providenciado, nem nós outros nem tu, a tua salvação, possível e realizável se tivéssemos algum préstimo. Evita, Sócrates, que essa pecha, em acréscimo a tua desgraça, caia sobre ti ou sobre nós.
Vamos, resolve-te, que já não é tempo de resolver, mas de ter resolvido. Só há porém, uma resolução, e tudo deve estar feito na noite de hoje; se nos demorarmos mais, já não será mais realizável nem possível. De toda forma, Sócrates, dá-me ouvidos e não procedas de outra maneira.
Sócrates- Querido Critão! Quão precioso o teu ardor, se alguma retidão o acompanhasse! Não sendo assim, quanto mais insistente, tanto mais penoso. Temos, pois, de examinar se devemos proceder como queres ou não. Quanto a mim, não é de agora, sempre fui deste feitio: não cedo a nenhuma outra de minhas razões, senão à que minhas reflexões demonstram ser a melhor. As razões que alegava no passado, não as posso enjeitar agora em vista de minha sorte presente; elas se me apresentam como que inalteradas; são as mesmas de antes as que estou respeitando e acatando; se nestas conjunturas, não temos outras melhores para alegar, fica certo de que não cederei absolutamente a tuas instâncias; ainda que, com mais ameaças que as atuais, nos acene o poderia da multidão, como a crianças, com o espantalho das prisões, mortes e confisco de bens. Como, portanto, faremos tal exame o mais acuradamente possível? Será retomando, em primeiro lugar, aquela razão que alegas a propósito das opiniões? Estávamos certos ou errados ao repetirmos que das opiniões umas devemos acatar, outras não? Ou antes, de eu ter de morrer, era acertado dizê-lo, mas agora se patenteou - não é assim? Que falávamos por falar, mas não passava de brincadeira, futilidade?
Francamente, Critão, desejo examinar contigo se aquela razão se nos apresentará um tanto modificada em vista da minha situação, ou idêntica, e se as mandaremos às urtigas, ou lhe obedeceremos. Costumavam dizer, creio eu, os que presumem falar seriamente, mais ou menos o mesmo que eu próprio dizia há pouco: que, das opiniões que os homens formam, a umas se deve grande acatamento, a outras não.
Pelos deuses, Critão, não te parece uma boa norma? Porque tu, tanto quanto alcançam as previsões humanas, não estás em vias de morrer amanhã, nem poderia ser abalado o teu juízo pela adversidade presente. Portanto, reflete; não achas acertado dizer que nem a todas as opiniões dos homens se deve acatamento, mas a umas sim e outras não? E não às de todos, mas às de uns sim e às de outros não? Que dizes? Não é com razão que se diz isso?
Critão- É com razão.
Sócrates- Logo, acatar as boas, não as ruins.
Critão- Perfeitamente.
Sócrates- Boas não são as dos judiciosos, ruins, as dos sandeus?
Critão- Como não?
Sócrates- Ora bem, em que sentido se faziam tais distinções? Um homem que pratica a ginástica e segue aquela norma dá atenção ao louvor, à censura, ao parecer de toda a gente ou somente ao de quem porventura é médico ou instrutor de ginástica?
Critão- Só ao deste.
Sócrates- Assim, deve temer as censuras e folgar com o louvor de único e não da multidão.
Critão- Evidentemente.
Sócrates- Deve, não é assim? Conformas suas práticas, seus exercícios, sua alimentação, sua bebida, somente com a opinião do mestre e entendido, de preferência a de todos os demais juntos.
Critão- Assim é.
Sócrates- Bem. Se desobedece àquele único, se desacata ao seu parecer e ao seu louvor, para atender ao que diz a multidão que de nada entende, não sofrerá nenhuma conseqüência ruim?
Critão- Como não?
Sócrates- Qual é essa conseqüência ruim, que extensão tem e onde atinge o desobediente?
Critão- Está-se vendo que no corpo, porque é este que ele arruina.
Sócrates- Dizes bem. Portanto, Critão, para não passarmos tudo em revista, com tudo mais se dá o mesmo. Agora, quando ao justo e ao injusto ao freio e ao belo, ao bem e ao mal, objetos desta nossa deliberação, devemos nós seguir a opinião da multidão e temê-la, ou a do único, se algum existe, entendido, a quem devemos respeitar e temer mais do que a todos os demais juntos? se não obedecermos ao qual, corromperemos e danificaremos aquilo que melhora coma justiça e se arruína com a injustiça? Ou isto não tem cabimento?
Critão- Acho que tem, Sócrates.
Sócrates- Ora, pois, se aquilo que melhora com um regime saudável e se corrompe com um regime insalubre nós arruinarmos obedecendo à opinião que não é a dos entendidos, é-nos possível viver com essa parte arruinada? É ao corpo que nos referimos, ou não?
Critão- Sim.
Sócrates- Então, é-nos possível viver com um corpo em más condições, arruinado?
Critão- De modo nenhum.
Sócrates- Podemos, porém, acaso viver depois de arruinar aquela parte que a injustiça danifica e a justiça beneficia? Ou considerarmos de menos valor que o corpo, aquela parte de nosso ser, seja qual for, com que se relaciona a injustiça e a justiça?
Critão- De modo nenhum.
Sócrates- De maior valor, então?
Critão- Muito maior.
Sócrates- Logo, meu excelente amigo, não é absolutamente com o que dirá de nós a multidão que nos devemos preocupar, mas com o que dirá a autoridade em matéria de justiça e injustiça, a única, a Verdade em si. Assim sendo, para começar, não apontas o bom caminho quando nos prescreves que nos inquietemos com o pensamento da multidão a respeito do justo, do belo, do bem e de seus contrários. A multidão, no entanto, dirá alguém, é bem capaz de nos matar.
Critão- Isso é claro, Sócrates, haverá quem diga.
Sócrates- Decerto. Mas, meu admirável amigo, essa razão que acabamos de rever ainda me parece substancialmente a mesma de antes. Examina também se continua de pé para nós este outro princípio: que não devemos dar máxima importância ao viver, mas ao viver bem.
Critão- Continua.
Sócrates- E que viver bem, viver com honra e viver conforme a justiça é tudo um, continua de pé, ou não?
Critão- Continua.
Sócrates- Por conseguinte, partindo desses princípios nos quais concordamos, devemos averiguar se é justo que eu tente sair daqui sem permissão dos atenienses, ou injusto: se se provar que é justo, tentemos; se não, desistamos. As considerações que aduzes, de dispêndio de dinheiro, reputação, criação de filhos, Critão, cuidado não sejam na realidade especulação próprias de quem, com a mesma facilidade, mataria, e se pudesse, ressuscitaria, sem nenhum critério a saber, a multidão. Nós, porém, pois que assim recide a razão, não sujeitemos à consideração nada além do que há pouco dizíamos: se será procedimento justo dar dinheiro aos que me vão tirar daqui, suborná-los, nós mesmos promovendo a fuga e fugindo, ou se, na verdade, procederemos com injustiça em todos esses atos, se se provar que cometeremos injustiça, não será absolutamente mister indagar se devo morrer, ficando quieto aqui, ou sofrer qualquer outra pena, antes do que praticar uma injustiça.
Critão- Acho que falas com acerto, Sócrates; vê, pois o que devemos fazer.
Sócrates- Vejamo-lo juntos, meu caro, e se puderes de algum modo refutar-me, refuta-me e te obedecerei; Se não, cessa desde logo, meu boníssimo amigo, de insistir no mesmo assunto, de que preciso sair daqui contrariando os atenienses; porque dou muita importância a proceder com o teu assentimento e não mau grado teu. Vê, pois, se te parecem satisfatórios os argumentos básicos deste exame e procura responder a minhas perguntas com a maior sinceridade.
Critão- Pois não, procurarei.
Sócrates- Asseveramos que não se deve cometer injustiça voluntária em caso nenhum, ou que em alguns casos se deve, e noutros não? Ou que de modo algum é bom nem honroso cometê-la, como tantas vezes no passado conviemos? e é o que acabamos de repetir. Porventura, todas aquelas nossas convenções de antes se entornaram nestes poucos dias e, durante tanto tempo, Critão, velhos como somos, em nossos graves entretenimentos não nos demos conta de que nada diferíamos das crianças? Ou, sem dúvida alguma é como dizíamos, quer o admita a multidão, quer não? Mais: ainda que tenhamos de experimentar momentos quer ainda maisdolorosos, quer mais suaves, o procedimento injusto, em qualquer hipóteses, não é sempre, para quem o tem, um mal e uma vergonha? Afirmamos isso ou não?
Critão- Afirmamos.
Sócrates- Logo, jamais se deve proceder contra a justiça.
Critão- Jamais, por certo.
Sócrates- Nem mesmo retribuir a injustiça com a injustiça, como pensa a multidão, pois o procedimento injusto é sempre inadmissível.
Critão- Parece que não.
Sócrates- E daí? Devemos praticar maldades ou não, Critão?
Critão- Não devemos, sem dúvida, Sócrates.
Sócrates- Adiante. Retribuir o mal que nos fazem é justo, como diz a multidão, ou injusto?
Critão- Absolutamente injusto.
Sócrates- Sim, porque entre fazer mal a uma pessoa e cometer uma injustiça, não há diferença nenhuma.
Critão- Dizes a verdade.
Sócrates- Em suma, não devemos retribuir a injustiça, nem fazer mal a pessoa alguma, seja qual for o mal que ela nos cause. Cautela, porém, Critão, ao admitires esses princípios, não o faças em contradição com o teu pensamento, pois sei que essa opinião é e será de alguns poucos. Entre os que a adotam e os que a repelem não existe um ânimo comum; fatalmente se a quererão mal uns aos outros, ao verem os propósitos uns dos outros. Portanto, considera muito bem tu se comungas a minha opinião, se concordas comigo e se nossa deliberação partirá do princípio de que jamais é acertado cometer injustiça, retribuí-la, vingar pelo mal que fazemos o mal que nos fazem, ou se diverges e não co-participas do princípio.
Quanto a mim, essa é opinião minha antiga, que ainda agora mantenho. Tu, porém, se tens outro sentir, fala, dá-me a conhecer; se perseveras no de outrora, presta atenção ao que aí decorre.
Critão- Persevero, concordo contigo; por isso, prossegue.
Sócrates- Passo, então, às decorrências; ou melhor, pergunto se uma convenção que se firmou com alguém, sendo justa deve ser cumprida ou traída.
Critão- Deve ser cumprida.
Sócrates- Daí, presta atenção. Saindo daqui, desobedientes à cidade, lesamos a alguém e logo a quem menos devemos lesar, ou não? E cumprimos as convenções justas que firmamos, ou não?
Critão- Não sei responder a tuas perguntas, Sócrates; não as estou compreendendo.
Sócrates- Bem, reflete no seguinte. Se, no momento em que eu estivesse para me evadir daqui, ou como quer que se diga, chegassem as Leis e a Cidade, assomassem perguntado: "Dize-nos, Sócrates: que pretendes fazer? Que outra coisa meditas, com a façanha que intentas, senão destruir-nos a nós, as Leis e toda a Cidade, na medida de tuas forças? Acaso imaginas que ainda possa subsistir e não esteja destruída uma cidade onde nenhuma força tenham as sentenças proferidas, tornadas inoperantes e aniquiladas por obra de simples particulares?" – Que responder, Critão, a essas e semelhantes perguntas? Muitos argumentos poderiam ser aduzidos, sobretudo por um orador, em defesa da lei por nós violada que estabelece a autoridade das sentenças proferidas. Acaso responderei que a Cidade me agravou, não me julgou, conforme a justiça? Direi isso? Direi o quê?
Critão- Isso mesmo, por Zeus, ó Sócrates!
Sócrates- E se então, as Leis dissessem: "Sócrates, o que convencionaste conosco foi isso, ou que submeterias ás sentenças que a Cidade proferisse?" Se me admirasse dessa pergunta, diriam, talvez: "Sócrates, não te admires de nossas perguntas, mas responde-nos, porque tu também costuma lançar mão de perguntas e respostas. Vamos, pois; qual a queixa contra nós e contra a Cidade, que te move à nossa destruição? Para começar, não fomos nós que te demos nascimento e não foi por nosso intermédio que teu pai desposou tua mãe e te gerou? Dize: apontas algum defeito naquelas dentre nós que regulam os casamentos? Achas que não estão bem feitas? - Não aponto defeitos, diria eu. - Então nas que regulam a criação e educação do filho, que também recebeste? Aquelas que de nós regem a matéria, ao mandarem que teu pai te ensinasse música e ginástica, não o fizeram com acerto? - Fizeram, diria eu. - Bem; depois que nasceste, que te criaram e que educaram, poderia, de começo, negar que nos pertences, como filho nosso e nosso escravo, assim tu com teus ascendentes? E, se assim é, julgas ter ao menos os mesmos direitos que nós? Julgas ter o direito de fazer-nos em represália o mesmo que tentamos fazer a ti? Ora, em face do teu pai não terias os mesmos direitos, nem em face de teu amo, se amo tivesse, para retaliar o que te fizessem, nem para revidar insulto por insulto, golpe por golpe, nem para outros desforços; mas, em face da pátria e das Leis, se tentarmos destruir-te por assim acharmos de justiça, terás o direito de tentar, da tua parte também, dentro das tuas forças, destruir-nos em desforra a nós, as Leis e a pátria? E dirás que, assim procedendo, obras com justiça tu, que verdadeiramente tomas a virtude a sério?! Que sabedoria é a tua, se ignoras que, acima de tua mãe, teu pai e todos os outros teus ascendentes, a pátria é mais respeitável, mais venerável, mais sacrossanta, mais estimada dos deuses e dos homens sensatos? Que se deve mais veneração, obediência e carinho a uma pátria agastada do que a um pai? Que o dever é ou dissuadi-la ou cumprir seus mandados, sofrer quietamente o que ela manda sofrer, sejam espancamentos, sejam grilhões, seja a convocação para ser ferido ou morto na guerra? Tudo isso deve ser feito e esse é o direito - não esquivar-se; não recuar; não desertar o posto; mas, quer na guerra, quer no tribunal, em toda a parte, em suma, cumpre ou executar as ordens da cidade e da pátria ou obter a revogação palas vias criadas do direito. É impiedade usar de violência contra a mãe e o pai, mas ainda muito pior contra a pátria do que contra eles." Que responderei a isso, Critão? Que as Leis dizem a verdade, ou que não?
Critão- Acho que sim.
Sócrates- "Vê, portanto, Sócrates" diriam talvez as Leis, " temos razão em tachar de injusto o que intentas fazer-nos agora. Nós que te geramos, te criamos, te educamos, te admitimos à participação de todos os benefícios que podemos proporcionar a ti e a todos os demais cidadãos, sem embargo, proclamos termos facultado ao ateniense que o quiser, uma vez entrada na posse dos direitos civis e no conhecimento da vida pública e de nós, as Leis, se não formos de seu agrado, a liberdade de juntar o que é seu e partir para onde bem entender. Se, por não lhe agradarmos nós e a cidade, algum de vós quiser rumar para uma colônia ou quiser fixar residência em qualquer outro país, nenhuma de nós, as Leis, o impede ou proíbe de seguir para onde lhe parecer, levando o que é seu. Mas quem dentre vós aqui permanece, vendo a maneira pela qual distribuímos justiça e desempenhamos as outras atribuições do Estado, passamos a dizer que convencionou conosco de fato cumprir nossas determinações; desobedecendo-nos, é réu tresdobradamente: porque a nós que o geramos não presta a obediência; porque não o faz a nós que o criamos e porque, tendo convencionado obedecer-nos, nem obedece nem nos dissuade se incidimos nalgum erro; nós propomos, não impomos com aspereza o cumprimento de nossas ordens, e facultamos a escolha entre persuadir-nos do contrário e obedecer-nos; ele, porém, não faz nem uma coisa nem outra. Tais são os crimes, Sócrates, em que, se puserem em prática o teu plano, te declaramos incurso, mais do que os outros atenienses." Se então eu perguntasse: "Como assim?", talvez ralhassem comigo com razão, dizendo estar eu mais do que os outros atenienses preso àquele compromisso para com elas. Diriam: " Dispomos, Sócrates, de fortes provas de que nós e a cidade somos do teu agrado. Tu não terias assistido nela mais do que todos os outros atenienses, se ela não te agradasse mais do que a todos; mas nem para uma festa jamais saíste da cidade, salvo uma única vez para os jogos do Istmo; nem para qualquer lugar do exterior, a não ser como combatente; nem outra viagem jamais empreendeste, como os demais, nem te deu vontade de conhecer outras cidades e outras leis, mas nós e nossa cidade te havemos bastado, a tal ponto nos preferias e convinhas em seres cidadãos sob a nossa soberania. Por sinal que até geraste filhos nela, dando a entender que a cidade te agradava. Demais, mesmo durante o processo, se quisesses, podias obter a condenação ao exílio e fazer então, com o consentimento da cidade, o que pretendes fazer agora sem ele. Então, bravateavas tu que não te revoltarias, se houvesses de morrer; ao contrário, preferias, com declaravas, a morte ao exílio; mas agora não fazes honra àquelas palavras, nem hesitas na tentativa de aniquilar a nós, as Leis; fazes o que faria o mais vil dos escravos, tentando a fuga contra as convenções e acordos, pelos quais te obrigaste para conosco aos deveres de cidadão. Reponde-nos primeiro a esta pergunta: é verdade o que dizemos quando afirmamos que te obrigaste aos deveres de cidadão sob nosso império, não em palavras, mas de fato, ou é mentira?" - Que hei de dizer a isso, Critão? Posso discordar?
Critão- Forçosamente que não, Sócrates.
Sócrates- "Que fazes", diriam, "senão ladear as convenções e acordos que conosco firmaste sem coação, sem engodo, sem a urgência de resolver em tempo exíguo, mas através de setenta anos, durante os quais te era facultado emigrar, se nós te desprazíamos e se descobrisses serem injustas as convenções? Mas tu não preferiste nem Esparta nem Creta, que vives dizendo dotadas de boas leis, nem qualquer das outras cidades, gregas ou estrangeiras; daqui não te afasta-te mais do que os coxos, os cegos e outros mutilados, tanto, mais do que aos outros atenienses, te agradava a cidade, bem como nós, as Leis, evidentemente; pois a que agradaria uma cidade com exceção das leis? Agora, porém, não é? não manténs os compromissos! Sim, Sócrates, tu os manterás, se nos atenderes, e não te sujeitarás ao ridículo de abandonar a cidade. Vamos, reflete; ladeando os compromissos e cometendo semelhante falta, que benefício trarás para ti e para teus amigos? Que teus amigos também correrão o perigo serem exilados e privados de cidadania e de seus bens, está fora de dúvida; quanto a ti, para começar, se partires para uma das cidades mais próximas - digamos Tebas ou Mégara, que ambas têm boas leis- ali entrarás, Sócrates, como inimigo de suas instituições; todos quanto zelam por suas cidades te olharão de través, como um destruidor das leis; consolidarás a reputação de teus juízes, de sorte que pareçam haver-te julgado escorreitamente, porque todo violador das leis bem pode ser tido como corruptor dos jovens e dos levianos. Ou acaso evitarás, as cidades de boas leis e os homens mais morigerados? E valerá a pena viveres com esse comportamento? Ou entrarás em contato com eles e discorrerás, sem acanhamento... sobre o que, Sócrates? Sobre os teus assuntos daqui? Sobre o supremo valor que tem para a humanidade a virtude, a justiça, assim como a legalidade e as leis? E não achas que o papel de Sócrates se manifestará indecoroso? Tens de achar. Admitamos que, afastando-se desses lugares, vás para a Tessália, para junto dos hóspedes de Critão, porque lá sobeja a
desordem e a licença, e quiçá gostariam de te ouvir contar como foi cômica a tua fuga da prisão, em travesti, metido num surrão de couro ou noutro disfarce habitual dos evadidos, e dissimulando esse jeito que é teu. Não haverá quem diga que, homem de idade, com pouco tempo provável de vida, não te pejaste de te agarres tão pegajosamente à existência, burlando as leis mais veneráveis? Talvez, se não magoares a ninguém; caso contrário, irás ouvir, Sócrates, indignidades incontáveis.
Viverás de granjear o favor de toda gente, assujeitado, a fazer o quê? senão levar a vida regalada na Tessália como se lá tivesse ido para um banquete? E aquelas palestras sobre a justiça e outras formas de virtude? Por onde nos andarão elas?
Oh! sim, é por amor dos filhos que desejas viver, para os criares e educares! Mas, daí? Vais levá-los para Tessália, torná-los estrangeiros de criação e formação, para que te fiquem devendo mais esse benefício? Ou não será assim? Será que, estando tu vivo e sendo eles criados aqui, terão melhor criação e formação sem a tua companhia, pois teus amigos é quem cuidarão deles? Então, se partires para a Tessália, eles cuidarão, mas não hão de cuidar se partires para o Hades? Se tem algum préstimo deveras os que protestam, amizade, hás de admitir que sim. Não, Sócrates; ouve-nos a nós que te criamos: não sobreponhas à justiça nem teus filhos, nem tua vida, nem qualquer outra coisa, para que, chegado ao Hades, possa alegar todas essas justificações perante os que lá governam. Está claro que, com aquele procedimento, aqui não será melhor, nem mais justo, nem mais pio, para ti nem para nenhum dos teus; nem lá será melhor, quando tiveres chegado. Presentemente, partirás, se partires vítima de injustiça, não nossa, das Leis, mas dos homens; se porém te evades, retribuindo assim vergonhosamente a injustiça, o dano com o dano, logrando próprios compromissos e acordos conosco, em detrimento daqueles a quem menos devias lesar, de ti próprio, de teus amigos, da tua pátria e nosso, nós, enquanto viveres, estaremos indignadas contigo e, lá embaixo, nossas irmãs, Leis do Hades, não hão de te acolher com benevolência, sabedoras do que nos procuraste arruinar na medida de tuas forças. Oh! Não! não possa mais Critão persuadir-te a fazer o que ele dirá com mais força do que nós !" Essa recriminação, Critão, meu querido companheiro, fica certo, parece-me que as estou ouvindo, tal como aos coribantes parece estarem ouvindo o som das flautas; é a ressonância mesma dessas palavras que zumbe no meu íntimo e não me deixa ouvir a outrem.
Por isso, acredita-me, tanto quanto creio agora, o que disseres em sentido diverso, di-lo-ás em vão. No entanto, se esperas algum resultado, podes falar.
Critão- Não, Sócrates; não tenho o que dizer.
Sócrates- Então desistem, Critão, procedamos daquela forma, porque tal é o caminho por onde a divindade nos guia.
Datilografado por Miguel Duclós, para a Consciência Homepage
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