SE O TEMPO FOSSE OURO..., TALVEZ PUDESSES PERDÊ-LO. - MAS O TEMPO É VIDA, E TU NÃO SABES QUANTA TE RESTA.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

SEGUNDO ANO – AULA 2 - JUIZO


O JUÍZO

1. Noção. — O pensamento pode ser estudado, não só sob ponto de vista psicológico, como sob o ponto de vista lógico. No primeiro caso, ele é considerado como uma atividade psíquica e, no segundo, como o resultado dessa atividade, o qual pode ser abstraído da consciência que o produz. Assim, “enquanto a Psicologia se ocupa da atividade real do pensamento, a Lógica atende unicamente ao produto dessa atividade, isto é, ao pensamento tomado em si mesmo".
As três operações específicas do trabalho intelectual do homem são o conceito, o juízo e o raciocínio. Estas operações na realidade constituem três momentos de uma única operação que é o pensamento. A formação dos conceitos, como vimos, resulta da elaboração dos elementos fornecidos pelas percepções e imagens concretas e individuais. Todavia, pesquisas recentes têm demonstrado a possibilidade do pensamento sem imagens. Certos conceitos superiores, como a justiça, a bondade, a força, o tempo, o infinito, não possuem imagens correspondentes. Isto significa que a idéia tende a se desprender do elemento intuitivo e a se tornar cada vez mais abstraia e independente das imagens.

2. Natureza do juízo. — Além de conceber as idéias, a inteligência também se ocupa em determinar suas relações. E o que se chama julgar. Juízo é, assim, o ato pelo qual o espírito estabelece uma relação entre duas idéias ou entre uma percepção e uma idéia: "o homem é mortal" ou "este homem é alto". Pode ser também definido como a afirmação da conveniência ou da desconveniência entre duas idéias: "o homem é um animal racional" ou "homem não é vegetal".
A expressão verbal do juízo chama-se oração ou proposição. Em todo juízo, podemos distinguir uma matéria e uma forma. A matéria são os objetos (idéias ou coisas) e que se aplica o juízo; é representada pelo atributo ou predicado que se afirma e pelo sujeito de quem se afirma. A forma é o próprio ato do espírito que percebe a relação entre o sujeito e o predicado; exprime-se, nos exemplos citados pelo verbo é.
É necessário não confundir o juízo com a associação de idéias. A associação psíquica, quando existe no ato de julgai fornece os elementos; o juízo consiste no reparo e na afirmação da conveniência dessa associação. "Ele é como que um sentimento intelectual: na associação somos passivos, no juízo sentimo-nos ativos".
3. Condições do juízo. — O juízo é o ato essencial da inteligência e supõe a abstração e a generalização, de vez que se baseia numa noção comum para estabelecer relações entre as idéias. Todo juízo, quando completo, termina por uma afirmação, implicando, por conseguinte, a crença em alguma coisa. O juízo não é, porém, uma operação especial da inteligência. Representa, ao contrário, a própria inteligência em ação. Todos os atos intelectuais, desde os mais simples aos mais complexos, nada mais constituem do que cadeias de juízos. Toda a nossa atividade intelectual se processa, assim através de juízos, pois qualquer ato que pratiquemos ou qualquer pensamento que formulemos, envolvem sempre uma crença no seu valor e uma afirmação de sua conveniência, em face da situação em que nos encontramos.
As crenças em que se fundamentam nossos juízos provêm várias causas. Entre elas, podemos assinalar os nossos estados afetivos, fazendo-nos crer em tudo que corresponda aos nossos desejos, propósitos e preferências. Muitas de nossas crenças se formam também sob a influência do meio social em que vivemos, o que faz com que essas crenças tomem o aspecto de verdadeiros "hábitos intelectuais". Daí o fato da repetição uma afirmação acarretar a crença na veracidade dessa afirmação. Assim se explicam o poder de certas fórmulas concisas,o êxito de certas campanhas da imprensa e a eficácia da propaganda. E eis a razão pela qual o mentiroso, muitas vezes acaba por acreditar nas próprias mentiras. . .
Outra fonte inesgotável de crenças é a ignorância, pois temos uma tendência irreprimível para acreditar em todas as asserções que não podemos criticar por falta de idéias opostas. Daí a credulidade ilimitada dos indivíduos incultos, das crianças e dos povos primitivos. Um dos fatores fundamentais da crença é a vontade. Esta, quando débil e vacilante, traz como conseqüência, a disposição do espírito para crer, sem oposição ou critica, nas afirmações que lhe são impostas. Quando, porém, forte e equilibrada, a vontade predispõe ao espírito crítico que só permite a crença depois de uma análise cuidadosa das afirmações que se lhe oferecem.

II. O RACIOCÍNIO

4. Natureza do raciocínio. — Nem sempre o espírito pode apreender, imediatamente, a relação existente entre as idéias. Utiliza-se então das relações entre as idéias que quer unir e uma terceira capaz de lhe fornecer a relação desejada. Sempre que isso acontece, diz-se que o espírito raciocina. Raciocínio é, assim a operação pela qual estabelecemos uma relação entre dois ou mais juízos. Todo raciocínio é, pois, constituído, pelo menos, de dois juízos: um que exprime a relação conhecida e, outro, a relação procurada. Por conseguinte, pelo raciocínio, o espírito conclui do que sabe o que ignora ou vai do conhecido ao desconhecido. O mais simples dos raciocínios é o silogismo que se compõe de três juízos dispostos de maneira tal que, admitidos os dois primeiros, o terceiro se impõe como verdadeiro: "todos os seres vivos morrem: as plantas são seres vivos; logo, as plantas morrem". Os dois primeiros juízos do silogismo chamam-se premissas; o terceiro, conclusão.
Certos psicólogos pretendem identificar o raciocínio com a associação de idéias, mas as diferenças são profundas e evidentes. A associação não se confunde com o raciocínio porque não estabelece a ligação lógica que une as três proposições de que o mesmo se compõe. Além disso, na associação, tudo é automático e se realiza sempre da mesma maneira, ao passo que no raciocínio, a inteligência é ativa e, em idênticas circunstâncias, diferentes soluções podem intervir.

5. Condições do raciocínio. — O espírito raciocina para saber o que ignora, para demonstrar o que já sabe ou para conhecer uma verdade adquirida, mas imperfeitamente compreendida. Do mesmo modo que os juízos, os raciocínios se fundamentam em certos princípios gerais, resultantes, não só de disposições inatas do espírito, como também de sua experiência sobre os dados da realidade exterior. Esses princípios denominaram-se princípios racionais ou dirigentes do conhecimento. Os raciocínios, nada mais sendo do que séries de juízos, sofrem, como estes, a influência dos estados afetivos, do meio social, da educação e da vontade.
Conforme o caminho seguido pelo espírito para ir do conhecido ao desconhecido, o raciocínio pode ser indutivo, dedutivo e analógico. No raciocínio indutivo, o espírito parte do particular para o geral, dos fatos para as leis, das conseqüências para os princípios. No raciocínio dedutivo, o espírito segue para o caminho inverso e vai do geral ao particular, das leis aos fatos, dos princípios às conseqüências. No raciocínio
analógico, o espírito vai do particular ao particular que apresente alguma semelhança com o primeiro. Os psicólogos contemporâneos assinalam ainda o raciocínio transdutivo próprio criança até certa idade. Segundo Stern e Piaget, as crianças costumam raciocinar por esquemas sincréticos, isto é, por meio de agrupamentos de imagens e idéias heterogêneas.

6. Patologia do juízo e do raciocínio. — Duas alterações fundamentais podem ser caracterizadas na patologia do pensamento:
a) Idéia fixa — predomínio absorvente no campo da consciência de uma idéia carregada de forte colorido afetivo.A verificação, pelo paciente, da existência dessa idéia, como reconhecimento da impossibilidade de eliminá-la da consciência, cria um estado de angústia de que podem resultar a idéia obsessiva
b) Delírio — pensamento errôneo "de natureza mórbida de desenvolvimento progressivo que, influindo sobre as convicções e conduta do paciente, não permite que se possa convence-lo do absurdo de suas concepções, conseguindo-se apenas sobre os detalhes secundários dos seus juízos e raciocínio.
7. Função do juízo e do raciocínio. — Fenômeno básico da vida intelectual, o juízo não constitui operação especial da inteligência, mas a própria inteligência em sua atividade cognitiva. Todos os processos intelectuais nada mais representam do que idéias de juízos. "O juízo é o ato essencial da inteligência, só ele dá a posse plena da verdade que é o seu objeto; pois não há verdade no sentido perfeito da palavra, senão quando o espírito afirma a conveniência do que percebe com o que é".
Seqüência de juízos, é imenso também o papel que o raciocínio desempenha na vida psíquica. É através do raciocínio que a inteligência utiliza a experiência adquirida para ampliar, cada vez mais, o âmbito do conhecimento.Todavia, o raciocínio nem sempre representa a razão e há muitos raciocínios que carecem de fundamentos racionais, sem deixar de oferecer uma estrutura lógica irrepreensível. Raciocinar muito não significa raciocinar bem. O raciocínio não possui, por conseguinte, valor em si mesmo. Sua precisão racional e sua importância para a vida do espírito dependem da base de bom-senso, da adaptação à experiência e do sentimento da realidade de que ele se possa revestir.

EXERCÍCIOS

1. Explicar a gênese do pensamento.
2. E possível pensamento sem imagem?
3. Elucidar a natureza do juízo.
4. Caracterizar as condições do juízo.
5. Mostrar a influência que os estados afetivos, o meio social, a educação e a vontade exercem sobre o juízo.
6. Explicar a natureza do raciocínio.
7. Distinguir o juízo e o raciocínio da associação de idéias.
8. Assinalar as condições do raciocínio.
9. Descrever as formas diversas de raciocínio.
10. Assinalar os estados patológicos do juízo e do raciocínio.
11. Pôr em relevo a função do juízo e do raciocínio na vida psíquica.

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