Bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Licenciado em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Especialista em Educação no Ensino Superior. Especialista em Filosofia pela UNESP. LICENCIADO EM PEDAGOGIA - UNESP. BACHAREL EM TEOLOGIA PELA FACULDADE DA CONGREGAÇÃO DOS MISSIONÁRIOS CLARETIANOS
SE O TEMPO FOSSE OURO..., TALVEZ PUDESSES PERDÊ-LO. - MAS O TEMPO É VIDA, E TU NÃO SABES QUANTA TE RESTA.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
SEGUNDO ANO AULA 4 - MEMÓRIA
A MEMÓRIA
I. NOÇÃO DE MEMÓRIA
1. Definição de memória. — Memória é a capacidade que possui o espírito de fixar, conservar e reproduzir, sob a forma de lembranças, as impressões experimentadas anteriormente. A memória abrange todo o campo da vida psíquica.Todos os fatos psicológicos, qualquer que seja a sua natureza, são susceptíveis de serem revividos pela memória. Em sua significação mais ampla, a memória pode ser considerada como a conservação do passado no presente. "É a colaboração de todo o nosso passado nas tarefas psíquicas que estamos realizando em todos os momentos de nossa vida presente".
Na memória podemos distinguir as seguintes capacidades ou funções: a) capacidade de fixação, pela qual as impressões se fixam em nosso espírito; b) capacidade de conservação, pela qual conservamos as impressões fixadas; c) capacidade de evocação, pela qual as impressões fixadas e conservadas podem ser reproduzidas em nosso espírito; d) capacidade de reconhecimento, pela qual reconhecemos as impressões reproduzidas como fatos da nossa experiência anterior; e) capacidade de localização, pela qual localizamos, no tempo e no espaço, a impressão reproduzida e reconhecida. Alguns autores assinalam ainda outras capacidades, entre as quais, a de expectação que é a antecipação do futuro por meio da memória, isto é, da experiência adquirida.
2. Condições orgânicas e psíquicas. — A fixação e a conservação dos fatos psicológicos estão na dependência das seguintes condições: a) Condições fisiológicas — a memória, sem ser uma função puramente cerebral, depende de certas condições orgânicas. A atividade sinérgica dos órgãos, o equilíbrio endócrino, a integridade funcional do sistema nervoso, fatores que permitem a realização perfeita do fenômeno da memória. As doenças da memória, por alterações anatômicas do cérebro, são provas dessa dependência parcial dos processos mnésicos das condições fisiológicas; b) Condições psicológicas — a aquisição e a conservação dos fatos psíquicos é favorecida: 1) pela repetição das impressões; 2) pela vivacidade e nitidez das impressões; 3) pela atenção; 4) pelo interesse; 5) pela associação lógica dos fatos.
A evocação também se encontra na dependência de certas condições. Sob o ponto de vista fisiológico a evocação depende: 1) da saúde; 2) da idade; 3) da fadiga; 4) de certas circunstâncias físicas (rumor, silêncio, escuridão, etc.).Sob ponto de vista psicológico, a evocação se explica pela associação dos fatos psíquicos. As lembranças não são independentes umas das outras. Associam-se em séries numerosas. A lei teórica da sua revivescência é a chamada lei de reintegração: "cada imagem tende a reproduzir o estado completo que faz parte; cada membro de uma série, a totalidade da série". Geralmente, porém, não se reproduzem todas as imagens da série, mas apenas as que interessam ao espírito no mento considerado. A evocação pode ser espontânea ou voluntária, conforme se verifique ou não a intervenção da vontade.
O reconhecimento é a interpretação da imagem evocada como um fato da nossa vida anterior, do nosso passado pessoal. A imagem reconhecida se acompanha de um sentimento familiaridade (Bergson) e a sua ligação com o nosso eu, apresenta-lhe um "sentimento de personalidade" (Claparède), razão pela qual reconhecer um fato psíquico é reconhecer-se si mesmo. Reminiscência é a lembrança evocada, mas não reconhecida.
A localização é um reconhecimento mais preciso, através do qual localizamos as lembranças no momento da nossa vida em que, as mesmas se originaram. Remontando à experiência anterior e seguindo certos pontos de referência, conseguimos fixar no passado, com maior ou menor precisão, o instante em que se realizaram os fatos de que nos lembramos.
3. Formas de memória. — Podemos distinguir na memória os seguintes caracteres: finalidade, tenacidade, prontidão, fidelidade e extensão. A memória é fácil quando fixa rapidamente as impressões; tenaz, quando conserva por muito tempo as impressões fixadas; pronta, quando evoca com presteza as lembranças; fiel, quando recorda com exatidão; extensa, quando retém grande número de impressões.
Raramente esses caracteres coexistem num mesmo indivíduo. Daí o fato de certas pessoas que aprendem com muita rapidez esquecerem também, rapidamente, o que aprenderam. Outras, ao contrário, conservam por longo tempo o que só conseguiram assimilar com esforço e lentidão.
4. Tipos de memória. — De acordo com o predomínio de certas imagens, os psicólogos costumam distinguir os seguintes tipos de memória:
a) Memória sensível — é a memória das imagens sensíveis, das coisas concretas. Ela se desdobra em diversas memórias: das cores, dos sons, dos sabores, etc. Cada uma dessas memórias pode ainda ser decomposta. Os psicólogos assinalam, porém, três tipos fundamentais de memória sensível: o tipo visual, em que predomina a memória das imagens visuais; o tipo auditivo, em que predomina a memória dos sons; o tipo motor, em que predomina a memória dos movimentos. Cada um desses tipos apresenta sub-tipos: os visuais terão, uns, a memória das cores, outros, a das formas; os auditivos conservarão melhor uns, os sons musicais, outros, os ruídos, etc. Na realidade, porém, não existe tipo puro. Pesquisas recentes têm revelado que, salvo aptidões excepcionais, a maioria dos indivíduos pertence ao tipo misto, em que as diversas memórias são, mais ou menos, de idêntica importância. Mesmo quando há predomínio de certas imagens, esse predomínio não se verifica em todas as operações mentais: um visual para as palavras pode ser auditivo para os números. No que concerne à linguagem, é a memória auditiva a dominante em quase iodos os homens. Além disso, o tipo mnemónico, é menos estável do que se acreditou até agora. Sob a influência do exercício, um tipo determinado pode sofrer uma transformação completa, por exemplo, o auditivo torna-se visual. (Piffault)
b)Memória intelectual — é a memória das idéias, das ilustrações. É a memória dos sábios, ainda que diferenciada no físico, no naturalista, no matemático, no filósofo, no historiador, em cada um dos quais ela apresenta caracteres particulares.
c)Memória afetiva — é a memória das imagens afetivas. Estas imagens se associam com representações mentais, de modo que a lembrança de um acontecimento pode reviver os sentimentos e as emoções que o acompanharam durante sua realização. Há, portanto, uma memória dos processos afetivos.
II. NATUREZA DA MEMÓRIA
5. Estrutura da memória. — No fenômeno da memória Kaploum distingue a conservação das representações e a conservação dos conhecimentos. Na sua opinião, um fato percebido ou pensado deixa no espírito uma representação e um conhecimento. Por um lado, pode-se rever o fato em sua forma sensível; por outro, é possível "saber-se" que ele está presente, sem que seja necessário representá-lo. Quase sempre, o conhecimento é o único presente. Sem representarmos o fato, "sabemos” que o mesmo se realizou. Esta espécie de conservação é um processo intelectual; situa-se, implicitamente, o fato no espaço e no tempo e pensa-se, virtualmente, na sua origem e importância. Esta relação abrange todos os fatos passados, mas o conhecimento latente de um fato é tanto mais esquemático e empalidecido quanto mais antigo é esse fato.
Há uma categoria de conhecimentos latentes de suprema importância para a nossa atividade de cada momento: é a que compreende os fatos "presentes" e que condiciona a nossa conduta. São conhecimentos porque os objetos a que se referem não são atual e conscientemente, percebidos. Mas, por não serem percebidos, nem por isso deixam de ser enérgica e atualmente "conhecidos". A massa desses conhecimentos nos envolve e colabora em todas as nossas ações.
Basta analisar, sumariamente, a menor das nossas ocupações conscientes para discernir toda a atividade, ao mesmo tempo inteligente e inconsciente que se encontra na base da corrente dos nossos pensamentos claros. Assim, andamos, discutindo calorosamente; nosso espírito está inteiramente absorvido pela discussão — e, entretanto, nos orientamos com precisão, evitamos os obstáculos que encontramos, seguimos com segurança nosso caminho, sem pensar somente na palestra em que estamos absorvidos, "sabemos", ao mesmo tempo, a cidade, o quarteirão, a rua, a casa, o andar em que nos encontramos, quem é aquele que visitamos, sua profissão, sua posição social, seu caráter, suas relações, seus parentes, o papel que desempenha ou pode desempenhar em nossa vida, o objetivo da nossa visita, etc. etc.
Não podemos deixar de considerar esses conhecimentos sempre presentes em nosso espírito porque, a todo o momento, eles nos fornecem dados e exercem influência sobre nossos pensamentos. Esses conhecimentos latentes se modificam e se adaptam a cada situação nova. Portanto, durante a vigília, o conjunto dos conhecimentos relativos aos fatos particulares da nossa vida, se encontra, incessantemente, na base do trabalho consciente do nosso espírito. Esses conhecimentos estão sempre à nossa disposição e é a sua presença contínua que permite que nossa atividade psicológica esteja, na vigília, adaptada à realidade. Daí a observação de Bergson de que o nosso passado está sempre presente em nosso espírito, "de tal maneira que nossa consciência para experimentá-lo, não precisa sair de si mesma, nem ser acrescida de alguma coisa estranha".
A psicologia tradicional tem considerado na memória, sobretudo, a conservação das representações. Mas, na maioria dos casos, a representação dos fatos não é evocada, já por ser inútil, já porque a rápida sucessão dos pensamentos não deixa tempo para isso. A representação dum fato passado e o seu conhecimento, por pertencerem ambos à memória não são menos separáveis e de natureza diversa. A representação pode estar ausente: sabe-se, por exemplo, que se ouviu uma melodia, com tal dia, em tal lugar, que tem um tal sentido, mas a imagem auditiva não aparece; ou, então, lembra-se perfeitamente ter conhecido tal pessoa, sabe-se que ela tem tal profissão, que possui tais relações com outras pessoas, mas não se consegue evocar sua fisionomia ou seu nome. Inversamente, pode acontecer que, às vezes, a imagem apareça, sem que se
consiga conceber o seu lugar no sistema ordenado dos nossos conhecimentos. É comum, por exemplo, não se saber qual a canção que se trauteia ou a quem pertence tal sorriso que se torna a ver.
Conquanto formas de memória, essas duas espécies de conservação são muito diferentes em sua natureza. Os conhecimentos estão em contínua atividade e, por não se realizarem representativamente, os fatos que eles exprimem não pesam sobre nossos pensamentos. Certos conhecimentos chegam a se manter ou a se transformar, sem que, para isso, se verifique representação explícita, como a noção de nossa situação no espaço ou a noção da hora. As representações, ao contrário, devem ser evocadas por um ato mental próprio para se tornarem presentes. Esta dupla conservação corresponde à dupla conservação da percepção que é, ao mesmo tempo, sensível e intelectual, passiva e ativa. Enquanto a imagem sensível de um fato torna à obscuridade desde que o mesmo desaparece, para só ressurgir pela evocação, seu conhecimento fica presente, implicitamente, no espírito, mesmo após o desaparecimento do fato. (Kaploum)
As curiosas experiências de Abramowsky sobre a “resistência do esquecido" oferecem, indubitavelmente, uma comprovação experimental a esses caracteres da memória. Abramowsky verificou que a lembrança, embora latente, manifesta de alguma maneira sua presença invisível em nosso pensamento. Se na minha recordação de uma cena há uma lacuna; se, por exemplo, há personagens presentes à referida cena cuja representação não consigo evocar, essa lacuna não constitui um vácuo absoluto. Se me afirmarem que é uma criança que lá se encontrava, eu o contestarei energicamente; e o contestarei até me fornecerem uma solução verdadeira. Logo, a lembrança, ainda que invisível, "resiste". Poder-se-á supô-la ausente; ela, porem, manifestará sua presença e não se deixará suplantar por outra.
Na verdade, sentimos perfeitamente na vida cotidiana que lembranças inconscientes não cessam de agir e de influir sobre nossa vida psicológica. Elas orientam e equilibram nosso espírito. Se deixássemos, um só instante, de saber, ainda que não pensemos nisso, quais são nossa situação social, nossa família, nossa cidade, nosso país, os grandes acontecimentos que caracterizam nossa época, enfim, todos os fatos relacionados com a nossa existência, cairíamos em plena alienação ou em pleno sonho.
6. Patologia da memória. - São as seguintes as principais doenças da memória.
a)Amnésia — é a perda total ou parcial da memória. A amnésia total pode ser: temporária ou definitiva, periódica ou progressiva, anterógrada (incapacidade de adquirir lembranças novas) ou retrógrada (quando se perdem as lembranças
já fixadas). A amnésia parcial pode apresentar diversas formas: afasia ou incapacidade de falar, pelo esquecimento dos sinais vocais ou dos movimentos da palavra (afasia motora); agrafia ou amnésia dos sinais gráficos, acarretando a incapacidade de ler ou escrever.
b)Hipermnésia — exaltação da memória, tal como se verifica no sonho, na hipnose ou nos moribundos.
c)Paramnésia — perturbação da memória que nos faz confundir o presente com o passado e julgar ver de novo aquilo que vemos pela primeira vez. É a ilusão do "já visto" que, para alguns autores, é antes uma alteração da percepção
do que da memória.
7. Função da memória. — A memória toma parte em todas as manifestações da vida psicológica. Não deixa, um momento, de exercer sua função de inserir o passado no presente, de atualizar, de acordo com as necessidades de cada instante, as experiências anteriores. Eis porque a memória é condição básica do desenvolvimento intelectual. Seria, efetivamente, impossível a realização de qualquer progresso no domínio da inteligência, se os conhecimentos se desvanecessem à medida que fossem adquiridos.Tornar-se-ia, então, necessário recomeçar, perpetuamente, o ciclo de nossas experiências cognitivas.
A memória não representa, por conseguinte, uma função especial da vida psíquica. Constitui antes a atividade total da inteligência. Na verdade, a memória é a própria consciência enquanto realiza a sua continuidade. Graças a ela, o trabalho da consciência se desenvolve com firmeza e sem interrupção, assegurando a unidade e o equilíbrio de toda a nossa vida interior.
Exercícios
1. Esclarecer a definição de memória.
2. Enumerar e esclarecer as capacidades da memória.
3. Caracterizar as condições orgânicas e psíquicas da memória.
4. Distinguir os caracteres da memória.
5. Assinalar os tipos de memória.
6. Explicar a estrutura da memória.
7. Descrever as doenças da memória.
8. Mostrar a função da memória na vida psíquica.
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